Realmente, a Igreja é adornada com uma rica variedade de instruções, sermões, tratados e livros piedosos, todos belos e agradáveis porque o Sol da Justiça mistura admiravelmente os raios da sua divina Sabedoria com as línguas dos Pastores, que são as suas penas, e com as suas penas que, por vezes, fazem também de línguas
[3], e são a rica plumagem desta pomba mística. Contudo, por entre a diversidade de cores da doutrina que a Igreja publica, descobre-se por toda a parte o precioso ouro da santa dileção, iluminando com seu incomparável brilho toda a ciência dos santos e erguendo-a acima de qualquer outra ciência.
Tudo na Igreja procede do amor, fundamenta-se no amor, tende ao amor e vive do amor. Mas, assim como sabemos que toda a claridade do dia provém do sol, e no entanto só dizemos que ele brilha quando dardeja seus raios a descoberto em algum ponto, assim também, ainda que toda a doutrina cristã provenha do amor sagrado, não aplicamos esse nome a toda a teologia, mas somente às partes dela que se referem à origem, à natureza, às propriedades e às operações desse amor.
Muitos autores têm tratado admiravelmente este assunto, sobretudo os antigos Padres, que, por amarem muito a Deus, falavam divinamente do seu amor. Como é bom ouvir falar das coisas do Céu por um São Paulo, que as aprendeu no próprio Céu!
[4] E como é bom ver essas almas alimentadas no seio da dileção escreverem sobre a sua santa suavidade!
Por isso mesmo, entre os escolásticos, os que mais e melhor discorreram sobre esta matéria foram também os mais eminentes em piedade. São Tomás deixou-nos um tratado digno de São Tomás; São Boaventura e o Beato Dionísio Cartuxo escreveram vários, excelentes sob diversos aspectos. E quanto a João Gerson, chanceler da Universidade de Paris, Sisto de Siena assim fala sobre ele: “Tão dignamente discorreu sobre as cinquenta propriedades do amor divino descritas no Cântico dos Cânticos, que parece ter sido ele o único a dar conta dos afetos do amor de Deus”.
Mas, para que se saiba que esta espécie de escritos é mais excelentemente feita pelas almas devotas do que pelas inteligências ilustradas, o Espírito Santo quis que muitas mulheres operassem maravilhas neste campo. Quem jamais exprimiu melhor as celestes paixões do amor sagrado do que Santa Catarina de Gênova, Santa Ângela de Foligno, Santa Catarina de Sena, Santa Matilde?
Também em nossos dias muitos têm escrito sobre isso, cujos livros não tive ocasião de ler senão por alto, apenas o necessário para ver se ainda haveria lugar para este meu trabalho.
O Pe. Luís de Granada, esse grande doutor da piedade, incluiu no seu
Memorial um
Tratado do amor de Deus que basta ser de tão bom autor para merecer recomendação. Diogo Stella, da Ordem de São Francisco, escreveu outro grandemente proveitoso e útil para a oração. Cristóvão da Fonseca, religioso agostiniano, publicou um ainda maior, onde diz muitas coisas belas. O Pe. Luís Richeomme, jesuíta, também escreveu um livro intitulado
A arte de amar a Deus por meio das criaturas, e este autor é tão amável na sua pessoa e nos seus escritos, que não se pode duvidar de que o seja mais ainda, falando do próprio amor.
O Pe. João Jesus Maria, da Ordem dos Carmelitas Descalços, compôs um livrinho que traz igualmente o título
A arte de amar a Deus, e é muito apreciado. Também o grande e célebre Cardeal Belarmino publicou há pouco um pequeno livro intitulado
Escada para subir até Deus através das criaturas, que não pode deixar de ser admirável, saindo daquela sapientíssima mão e devotíssima alma, que tanto e tão doutamente tem escrito para o bem da Igreja.
Nada direi do
Parenético[5], essa torrente de eloquência que corre por toda a França em numerosos e variados sermões e belos escritos. A estreita consanguinidade espiritual que minha alma contraiu com a sua, quando, por imposição de minhas mãos, ele recebeu o caráter sagrado da ordem episcopal, para felicidade da diocese de Belley e honra da Igreja, além dos mil laços da sincera amizade que nos liga, tornam-me suspeito para falar de suas obras, entre as quais esse Parenético do amor divino foi um dos primeiros jorros da inigualável torrente espiritual que todos admiram nele.
Há ainda o grande e magnífico Palácio que o Rev. Pe. Lourenço de Paris, da Ordem dos Capuchinhos, levantou em honra do amor divino, o qual, uma vez acabado, será um curso completo da ciência de bem amar. E finalmente, a bem-aventurada Teresa de Jesus escreveu tão bem sobre os sagrados movimentos da dileção em todos os livros que deixou, que nos encanta ver tanta eloquência em tão grande humildade, tanta firmeza de espírito em tamanha simplicidade; a sua sapientíssima ignorância faz parecer ignorantíssima a ciência de muitos letrados que, sobrecarregados de tanto estudo, envergonham-se de não entenderem o que ela escreveu com tanta felicidade sobre a prática do amor divino. Assim, Deus levanta o trono da sua virtude sobre o pedestal da nossa fraqueza,
servindo-se dos fracos para confundir os fortes[6].
Este tratado que te apresento, caro leitor, apenas segue de bem longe todos esses excelentes livros, sem a esperança de poder alcançá-los; contudo, confio tanto na proteção dos dois amantes celestes a quem o dedico, que espero que ele possa prestar-te algum serviço. Encontrarás nele muitas considerações que não te seria fácil encontrar noutro lugar, como também encontrarás nos outros livros muitas coisas boas que não estão expostas neste. Parece-me, com efeito, que meu desígnio não é o mesmo dos outros, a não ser de modo geral, na medida em que todos visamos a glória do santo amor. Mas poderás verificar isso durante a leitura deste livro.
Minha intenção foi apresentar de forma simples e singela, sem arte e mais ainda sem artifício, a história do nascimento, do progresso, da decadência, das operações, propriedades, vantagens e excelências do amor que devemos a Deus. E se, além disso, encontrares nele alguma outra coisa, são meras excrescências que é quase impossível evitar, quando se escreve, como eu, entre muitas distrações e interrupções. Quero crer, porém, que nada ficará sem alguma utilidade. A própria natureza, que é tão sábia obreira, para produzir uvas cria ao mesmo tempo, como que por prudente inadvertência, tão grande número de folhas e de rebentos, que poucas vinhas há que, na devida estação, não precisem ser desfolhadas e desbrotadas.
Tratam-se muitas vezes os escritores com demasiada rudeza; proferem-se contra eles juízos precipitados, e, na maior parte das vezes, com impertinência maior do que a imprudência deles ao publicar apressadamente os seus escritos. Um juízo precipitado põe em grande risco a consciência dos juízes e a inocência dos acusados. Se muitos escrevem nesciamente, muitos censuram sem razão. A benevolência dos leitores torna suave e útil a leitura. Para que me sejas favorável, meu caro leitor, quero explicar-te alguns pontos que, sem estas reflexões, poderiam indispor-te comigo.
Alguns acharão, talvez, que me alonguei demais e que não era necessário ir até à raiz do assunto; mas eu penso que o divino amor é uma planta semelhante à que nós chamamos
angélica, cuja raiz é tão odorífera e salutar como o tronco e as folhas. Os quatro primeiros livros, e mesmo alguns capítulos dos outros, poderiam ser facilmente omitidos na opinião das almas que não procuram senão a prática da santa dileção; mas tudo isto lhes será muito útil, se o lerem devotamente. E, por outro lado, talvez muitos outros reprovassem o fato de não encontrar aqui toda a sequência do que diz respeito ao Tratado do celeste amor. Nisto tive em consideração a índole dos espíritos deste século, e assim o devia fazer; porque importa muito não perder de vista a época em que se escreve.
Cito algumas vezes a Sagrada Escritura com termos diferentes dos da edição comum. Meu caro leitor, não me faças por isso a injustiça de julgar que quero afastar-me dessa edição; não, mil vezes não, porque sei que o Espírito Santo a autorizou pelo sagrado Concílio de Trento, e que por isso devemos todos aceitá-la. Emprego as outras versões unicamente em serviço desta, e quando elas explicam e confirmam o seu verdadeiro sentido. Por exemplo, o que o Esposo celeste diz à Esposa:
Tu me feriste o coração[7], é perfeitamente esclarecido pela outra versão
[8]:
Tu me roubaste o coração, ou
Tu atraíste e arrebataste o meu coração. O que Nosso Senhor diz
[9]:
Bem-aventurados os pobres de espírito, é ampliado e explicado pela versão grega:
Bem-aventurados os mendigos de espírito. E assim também nos outros textos.
Cito muitas vezes os Salmos em versos, com o fim de recrear o teu espírito e pela facilidade que para isso tive devido à excelente tradução de Philippe Desportes, abade de Tiron
[10]; contudo, algumas vezes me afastei dele, mas não por julgar-me capaz de fazer versos melhores do que os deste famoso poeta, pois seria uma impertinência inqualificável da minha parte se, nunca tendo sequer pensado nessa forma de escrever, pretendesse sair-me bem nela numa idade e condição que me obrigaria a afastar-me desse campo, se nele alguma vez tivesse entrado. Mas, em algumas passagens que podem ser entendidas de diversas formas, não segui os seus versos por não querer seguir o seu sentido. Assim, no Salmo 132 ele traduziu uma palavra latina por
franjas da veste, e eu entendo que deve ser
gola; por isso traduzi a meu modo.
Não digo coisa alguma que não tenha aprendido dos outros, mas me seria impossível recordar de quem recebi cada coisa em particular. Afirmo, porém, que sempre que extraí de qualquer autor trechos importantes e dignos de atenção, não deixei de tributar-lhe o louvor merecido. E para que não haja dúvidas sobre a minha sinceridade, advirto que o capítulo 13 do Livro sétimo é extraído de um sermão que preguei em Paris, em Saint-Jean-en-Grève, no dia da Assunção de Nossa Senhora, em 1602.
Nem sempre deixei clara a conexão entre um capítulo e outro; mas o leitor atento encontrará facilmente os elos que os ligam. Nisso, como em outras coisas, tive grande cuidado de poupar o meu tempo e a tua paciência. Quando publiquei a
Introdução à vida devota, o Senhor Arcebispo de Viena, Monsenhor Pedro de Villars, fez-me o favor de me escrever sua opinião sobre ela em termos tão lisonjeiros para esse opúsculo e para mim, que nunca ousaria repeti-los. Exortava-me a aplicar, quanto me fosse possível, as horas vagas a este gênero de trabalho, e, entre muitos e importantes conselhos com que me honrou, disse-me que observasse sempre, tanto quanto o permitisse o assunto, a brevidade dos capítulos; porque, diz ele, assim como os viajantes, quando ficam sabendo que há um belo jardim a vinte ou vinte e cinco passos do seu itinerário, facilmente se desviam para irem vê-lo, coisa que não fariam se o soubessem mais afastado, assim também aqueles que sabem que o final de um capítulo não está muito distante do seu começo, decidem-se de bom grado a lê-lo, o que não fariam, por mais atraente que fosse o assunto, se precisassem de muito tempo para terminar a sua leitura. Tive razão, portanto, de seguir neste ponto a minha inclinação, já que ela mereceu a aprovação deste grande personagem, que foi um dos mais santos prelados e dos mais sábios doutores que a Igreja possuiu no nosso século, e era, quando me honrou com a sua carta, o mais antigo de todos os doutores da Faculdade de Paris.
Não faz muito tempo, um grande servo de Deus advertiu-me de que o fato de ter endereçado à
Filoteia a minha
Introdução à vida devota, havia impedido muitos homens de tirar proveito dela, por não considerarem dignos da leitura de um homem os conselhos dirigidos a uma mulher. Não pude deixar de admirar-me de que houvesse homens que, por quererem parecer homens, se mostrassem tão pouco homens; pois te pergunto, caro leitor, se a devoção não é igualmente recomendada para os homens como para as mulheres, e se não devemos ler com igual atenção e respeito a segunda Epístola de São João, dirigida à Senhora Eleita, como a terceira, que ele destina a Gaio, e se milhares de cartas ou de excelentes tratados dos antigos Padres da Igreja devem ser considerados inúteis aos homens por terem sido dirigidos a santas mulheres daquele tempo!
Mas, além disso, é à alma que aspira à devoção que eu me dirijo sob o nome
Filoteia, e os homens têm uma alma tanto quanto as mulheres. Entretanto, para nisto imitar o grande Apóstolo que se considerava devedor a todos
[11], mudei o endereço neste Tratado e dirijo-me a
Teótimo. E, se porventura houvesse mulheres (e esta impertinência seria mais aceitável nelas...) que não quisessem ler as instruções feitas a um homem, eu lhes pediria que considerassem que o
Teótimo a quem me dirijo é o próprio espírito humano que deseja fazer progressos no amor de Deus, espírito que tanto as mulheres como os homens possuem.
Este Tratado é feito para ajudar a alma já devota a aperfeiçoar-se, e para isso foi necessário dizer várias coisas um pouco menos conhecidas do comum das pessoas, e que, portanto, parecerão mais obscuras a algumas. O fundo da ciência é sempre um pouco mais difícil de sondar, e encontram-se poucos mergulhadores que queiram e saibam ir colher as pérolas e outras pedras preciosas nos abismos do oceano. Mas, se tiveres verdadeira coragem para mergulhar neste escrito, acontecer-te-á o mesmo que aos mergulhadores, os quais, segundo diz Plínio
[12], “quando estão nos profundos abismos do mar, veem ali claramente a luz do sol”; porque encontrarás nos pontos mais difíceis deste Tratado uma boa e agradável claridade. E, por certo, assim como eu não quis seguir aqueles que desprezam os livros que tratam de um gênero de vida supereminente em perfeição, também não quis referir-me a essa supereminência, porque não posso censurar os autores, nem autorizar os censores de uma doutrina que não possas compreender.
Toquei em muitos pontos de teologia, mas sem espírito de controvérsia, propondo simplesmente, não tanto o que outrora aprendi nas discussões, mas o que a experiência no serviço das almas e o emprego de vinte e quatro anos na santa pregação me fizeram julgar como mais conveniente à glória do Evangelho e da Igreja.
No mais, algumas pessoas notáveis de diversos lugares advertiram-me de que alguns opúsculos têm sido publicados citando apenas as iniciais do nome de seu autor, que por acaso são as mesmas do meu nome, o que fez algumas pessoas pensarem que fossem trabalhos meus, não sem algum escândalo por parte daqueles que julgaram que eu me tivesse desviado da minha simplicidade para inflar o meu estilo com palavras pomposas, o meu discurso com conceitos mundanos, e os meus conceitos com uma eloquência arrogante e enfatuada. A esse respeito te digo, meu caro leitor, que assim como os que talham ou lapidam pedras preciosas, cansando a vista à força de a aplicarem às linhas delicadas do seu trabalho, têm sempre diante de si alguma formosa esmeralda para a fitarem de tempos em tempos, e descansarem na sua cor verde os olhos enfraquecidos para que recuperem seu vigor, assim também, nesta variedade de afazeres a que a minha condição me obriga necessariamente a aplicar-me, tenho sempre pequenos planos de algum tratado de piedade com que me entretenho, quando posso, para aliviar e descansar o espírito.
Mas isto não quer dizer que faça profissão de escritor, porque nem a fraqueza do meu espírito, nem as obrigações do meu cargo, exposto a servir e atender uma infinidade de pessoas, o permitiriam. Por esta razão tenho escrito muito pouco e publicado ainda menos; e, para seguir o conselho e a vontade de meus amigos, digo-te que não atribuas o louvor que merece o trabalho dos outros, a quem não merece nenhum pelo seu próprio.
Há dezenove anos, achando-me em Thonon, pequena cidade nas margens do lago de Genebra, que então se convertia pouco a pouco à fé católica, o ministro adversário da Igreja clamava por toda parte que o dogma católico da presença real do Corpo do Salvador na Eucaristia destruía o símbolo e a analogia da fé (ele gostava muito de usar essa palavra
analogia, incompreensível para seus ouvintes, com o fim de parecer muito sábio); e, por isso, os outros pregadores católicos que ali estavam comigo, encarregaram-me de escrever, refutando essa tolice. Fiz o que me pareceu conveniente, redigindo uma breve meditação sobre o Símbolo dos Apóstolos para confirmar a verdade, e todas as cópias foram distribuídas naquela diocese, onde já não encontro nenhuma.
Pouco depois Sua Alteza
[13] veio de França e, encontrando as localidades de Chablais, Gaillart e Ternier, situadas nos arrabaldes de Genebra, razoavelmente dispostas a receber a santa religião católica, que lhes tinha sido roubada pela desgraça das guerras e revoltas, havia perto de setenta anos, resolveu restabelecer o seu culto em todas as paróquias, abolindo a heresia
[14]. E como, por um lado, havia grandes dificuldades para realizar este feliz propósito, pelas considerações a que se dá o nome de razões de Estado, e, por outra parte, como alguns, ainda não bem instruídos na verdade, resistiam a esse tão desejável restabelecimento, Sua Alteza venceu o primeiro obstáculo pela firmeza invencível do seu zelo pela santa religião, e o segundo por uma suavidade e prudência extraordinárias; pois, reunindo os principais e mais obstinados, falou-lhes com uma eloquência tão amável e cativante que quase todos, vencidos pela doce violência do seu amor paternal, depuseram as armas da sua obstinação aos seus pés, e suas almas nas mãos da santa Igreja.
Seja-me permitido, porém, dizer-te de passagem o seguinte: Podem-se louvar muitas nobres ações deste grande príncipe, nas quais brilha a prova da sua bravura e ciência militar que a Europa inteira admira; mas, quanto a mim, o que mais admiro, e jamais poderia exaltar o bastante, é o restabelecimento da santa religião nos três lugares já mencionados. A esse respeito fui testemunha de tantos rasgos de piedade, harmonizados com uma admirável prudência, constância, magnanimidade, justiça e benignidade, que me parecia ver nessa pequena região, como num quadro em miniatura, tudo o que se diz em louvor dos príncipes que outrora mais ardentemente serviram à glória de Deus e da Igreja; o campo de ação era pequeno, mas as ações eram grandes. E, assim como aquele antigo artífice
[15] que não foi tão estimado por suas obras de grande vulto como foi admirado por ter feito um navio em marfim, provido de toda a equipagem, em tão pequeno volume que as asas de uma abelha o cobriam todo, assim também aprecio mais o que este grande príncipe realizou então naquele cantinho dos seus Estados, do que os altos feitos que muitos exaltam até às nuvens.
Por esta ocasião restabeleceram-se, por todas as avenidas e praças públicas daquelas cidades, as vitoriosas insígnias da cruz; e como pouco antes se havia levantado uma, muito solenemente, em Ennemasse, perto de Genebra, um ministro protestante escreveu um pequeno tratado contra a honra devida à cruz, contendo uma invectiva violenta e venenosa, à qual se julgou necessário responder. Monsenhor Claude de Granier, meu predecessor, de abençoada memória, encarregou-me disso, ao que obedeci não só por ser ele o meu Bispo, mas, além disso, um santo servo de Deus. Escrevi a refutação com o título de
Defesa do Estandarte da Cruz, e dediquei-a a Sua Alteza, em parte para lhe testemunhar a minha humilde submissão, e em parte para lhe agradecer o cuidado que tinha pela Igreja naquelas localidades.
Recentemente, reimprimiram essa Defesa com o prodigioso título de
Pantalogia ou Tesouro da Cruz, título em que jamais pensei, porque não sou um estudioso, nem teria tempo nem memória para reunir num livro tantos documentos importantes que pudessem fazer jus ao título de
Tesouro ou de
Pantalogia; além disso, tenho horror a esses frontispícios arrogantes.