Resumo
Esta presente obra tem a intenção de ressaltar a essência do Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, recolhendo no escrito de São Luís Maria Grignion de Montfort os elementos mais relevantes para um maior crescimento espiritual, podando os excessos e acrescentando o que ainda falta em nossa consciência e em nossas práticas, e principalmente alcançar o fim último da devoção à Virgem Maria, que é o crescimento na Adoração, no Amor, no Louvor, no Conhecimento, no Serviço e na Contemplação dos Mistérios de Cristo.
Esse pequeno escrito introdutório, ou síntese, do Tratado da Verdadeira Devoção tem o objetivo de iluminar àqueles que sentem o desejo de consagrar-se a Virgem Maria pelo método de São Luís Maria.
Nosso trabalho será dividido em quatro partes: a primeira tratará da conceituação do termo e das espécies de Devoção; a segunda buscará fazer um breve resumo dos capítulos do Tratado, esclarecendo pontos e ressaltando elementos importantes; na terceira parte trataremos do que é uma Consagração e em específico da Consagração à Virgem Maria; e por último, na quarta parte, serão os Exercícios Espirituais para aqueles que desejarem fazer a consagração pelo método Monfortino.
Introdução
O Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria de São Luís Maria Grignion de Montfort, é um escrito que possui uma intenção primeira de formar verdadeiros devotos da Santíssima Virgem Maria. O seu escrito possui uma grande riqueza bíblica e também é rico em citações dos Santos Padres da Igreja, tornando-o assim um escrito inteiramente isento de erros e equívocos, como a própria Igreja reconhece em 12 de maio de 1853, quando é promulgado em Roma um decreto declarando que os escritos de São Luís Maria estão em consonância com a Sã Doutrina Católica. O Tratado da Verdadeira Devoção não é propriamente um tratado de mariologia, mas usa dos seus elementos para fundamentar o que seria uma verdadeira devoção Mariana.
O Escrito de São Luís Maria não é simples de ser entendido, pois é bem notório que de forma sintética ele procura discorrer em seu desenvolvimento sobre temas muito importantes tanto para a fé quanto para a prática dela. A Obra procura de uma forma prática, esboçar o que seria e a forma de uma verdadeira devoção.
São Luís Maria propõem uma consagração à Santíssima Virgem, consagração essa que ele vai chamar de Escravidão de Amor a Jesus Cristo, Sabedoria Encarnada, por Maria. Ele vai elencar duas formas de alguém pertencer a outrem, a primeira é pela servidão e a outra é pela escravidão, e vai dizer:
“pela servidão, comum entre os cristãos, um homem se põe a serviço de outro por um certo tempo, recebendo determinada quantia ou recompensa. Pela escravidão, um homem depende inteiramente de outro durante toda sua vida”.[1]E com isso, manifesta que a essência dessa consagração é a renovação das promessas batismais:
“antes do Batismo o demônio nos possuía como escravos, e o batismo nos transformou em escravos de Jesus Cristo e só devemos viver, trabalhar e morrer para produzir frutos para o homem-Deus, glorificá-lo em nosso corpo e fazê-lo reinar em nossa alma, pois somos sua conquista, seu povo adquirido, sua herança”.[2] Uma vez que o batismo gera em nós um caráter indelével de filhos de Deus, que não é temporal, mas para sempre, é preciso reconhecer como a esposa do Cântico dos Cânticos:
“Eu sou para o meu amado e meu amado é para mim”.,[3] esse caráter indelével é eterno.
Com isso, São Luís Maria propõem àqueles que compreenderam a essência da Verdadeira Devoção, uma Consagração de Escravidão de Amor a Jesus por Maria, renovando as promessas batismais. São Luís não propõem nada de novo, somente propõem um reavivamento do compromisso selado com Deus no batismo: renunciar o demônio e suas obras, o mundo com suas seduções. Dessa forma, vê-se que muito mais do que uma consagração, São Luís propõem um método de consagração, pois a sua intenção com esse método é gerar um reavivamento da fé. Por isso, o tratado vem nos esclarecer unicamente que a Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, que tem o seu fim último Jesus Cristo:
“Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, deve ser o fim último de todas as nossas devoções; de outro modo, elas serão falsas e enganosas”.[4] Por isso, que todo aquele que vai a Virgem Maria escuta dela o seu grande mandamento:
“Fazei tudo o que Ele vos disser!”[5]
I PARTE
CONCEITUAÇÃO, NATUREZA E ESPÉCIES DE DEVOÇÃO
I
Devoção
Desde a antiguidade, encontramos nos povos uma certa expressão devocional, que é manifesta por patrocínios, rituais dedicados a entidades, cultos a forças da natureza, entre outras manifestações. Essas são presentes em todos os povos, que colocam sua confiança e seu afeto em certos elementos que lhe trazem segurança e bem estar, mesmo que sejam só psicológicos e emocionais.
O termo devoção, do latim
devotione, remete-se à dedicar-se à algo, muitas vezes usado na âmbito religioso. Mas, essa devoção, essa dedicação, pode não só remeter-se à divindade, mas também pode remeter-se à pessoas, aos santos e anjos. Toda devoção inclina o indivíduo à três realidades principais:
ao respeito (reverência); à confiança; e a uma dedicação. Essas três realidades se manifestam em outros três âmbitos:
na razão que reconhece plausível
confiar; na memória que afetivamente é inclinada ao
respeito (reverência); e
na vontade que se inclina a um esforço para dedicar-se cada vez mais com generosidade.
No âmbito religioso cristão, a devoção é enriquecida com a Graça Divina, que sobrenaturaliza a relação com o objeto da devoção, uma vez que todo objeto de devoção cristã tem como fim último a Deus. Por isso, toda devoção cristã, antes de exaltar a pessoa dos santos e dos anjos, ou da Virgem Maria, ou até ritos e objetos, exaltamos primeiramente a Deus que realizou grandes coisas nesses seres. E assim podemos dizer que toda devoção cristã, tem como princípio e fim o próprio Deus, que pela graça, santifica e torna os seres expressão de sua perfeição.
Como a devoção cristã tem como princípio, meio e fim o próprio Deus, é preciso reconhecer que essa devoção está pautada no Amor, pois Deus é Amor. Sendo assim, toda devoção cristã tem como objetivo o crescimento no Amor a Deus, assim como Ele mesmo disse:
“Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”.[6]
Portanto, vê-se que o termo devoção no âmbito cristão remete-se a algo mais profundo e mais superior, não tem a ver somente com uma afinidade, mas a um comprometimento filial, fundado no Amor de Deus, que consequentemente proporciona ao fiel um ardor no
coração, um contemplar profundo dos mistérios de Deus na
alma, e uma generosidade maior no esforço para estar com Deus. Com isso, vê-se que a devoção é uma porta de acesso à própria Divindade. Mas, para que a devoção seja verdadeiramente uma porta de acesso a Deus, é preciso que o devoto amadureça a sua capacidade de
respeito (reverência), de
confiança, de
dedicação, e de
Amar.
(...)
[1] MONTFORT, São Luís Maria G..
T.V.D.S.V. Nº69, §2-3.
[4] MONTFORT, São Luís Maria.
T.V.D.S.V. Nº61.