Trecho da introdução
São Charbel viveu como religioso da Ordem Libanesa Maronita (de São Marun) no mosteiro de Annaya por 16 anos e os últimos 23 como eremita em um eremitério próximo. Foi um homem continuamente dado à oração diante do Santíssimo Sacramento. Vivia intensamente a Missa de cada dia e levava uma vida de ininterrupta penitência, trabalhando nos campos do convento, em silêncio, para ganhar o pão. Sua vida foi: oração, penitência e trabalho. Depois de morto, milhares e milhares de devotos chegam para visitar seu túmulo, onde Deus continua fazendo milagres. São Charbel é um santo popular no Líbano, mas é também um santo de todos e para todos, pois é nosso irmão que nos espera no céu e cuja vida nos estimula a viver na terra em demanda da eternidade.
1. Um pouco de história
São Charbel nasceu no Líbano, um país do Oriente Médio que tem, atualmente, cerca de quatro milhões e duzentos mil habitantes. Fora, há cerca de 11 milhões de libaneses (a maior parte cristãos) que residem em diferentes nações do mundo. No país, vivem ainda cristãos e muçulmanos. Os muçulmanos se dividem em três seitas (sunitas, xiitas e drusos), com uns 43% da população. Os demais são católicos maronitas (28%), católicos gregos, católicos armênios e católicos sírios com 2%. Além disso, há cristãos ortodoxos gregos, ortodoxos armênios, ortodoxos sírios e caldeus, afora alguns milhares de protestantes, que são praticamente o restante da população, com um total de 26%. O país é uma república democrática, independente desde 1943. Por lei, o presidente do país deve ser católico maronita. O primeiro-ministro há de ser muçulmano sunita e o presidente da Assembleia e do Senado muçulmano xiita. O cedro, que é o símbolo do país, está em sua bandeira. São famosos os cedros do Líbano com os quais Salomão construiu muitas obras do templo de Jerusalém, como se pode ler na Bíblia (1 Reis 5). Alguns desses cedros têm uma antiguidade de 1.500 anos, medem 27 metros de altura e 16 de circunferência. O Líbano foi a terra dos famosos fenícios, navegadores e comerciantes, que chegaram até a Inglaterra e espalharam o alfabeto pelo mundo. Foram conquistado por Alexandre Magno no ano 333 a.C. Nesse país, existiram cidades famosas como Biblos (em árabe), uma das mais antigas do mundo, com uma idade de 6 mil anos. Biblos significa papiro, e, no mundo grego, começou a designar livro. Dessa palavra vem o nome Bíblia, que, literalmente, em grego, significa livros. O lugar onde nosso santo viveu quase toda a sua vida, o mosteiro de Annaya, é um local entre montanhas perto da antiga Biblos. Os católicos maronitas do Líbano recebem o seu nome de São Marun, um santo eremita do século IV, que morreu no ano 410, e de quem Theodoreto, que foi bispo de Cirro, escreveu no ano 423: “Cristo lhe concedeu o dom de cura em tal medida que sua fama se espalhou por toda parte atraindo a muitos. Sua bênção extinguia a febre, expulsava demônios e curava todos os tipos de males com sua oração”. São Marun foi um santo anacoreta entre tantos outros que povoavam o Egito. Calculou-se que, no século V, havia no Egito e em outras regiões próximas uns 500 mil eremitas. Esses eremitas, no princípio, viviam só, mas depois se congregaram em mosteiros sob as ordens de um superior. De um mosteiro podiam depender centenas de monges. São Marun levou o movimento monástico à Síria, mas com as invasões árabes (636-750), os monges maronitas, discípulos de São Marun, fugiram para as regiões montanhosas e inacessíveis do Líbano. Desde o princípio, os monges maronitas se distinguiram por sua fidelidade à fé católica. A Igreja Maronita celebra, em 31 de julho, a festa de 350 monges mortos no ano 517 por defenderem sua fé católica contra os hereges monofisitas que diziam haver em Jesus apenas uma natureza, tendo Ele duas: a divina e a humana. Os monges maronitas, que fugiam da perseguição árabe, se estabeleceram especialmente nas cavernas das montanhas do Vale Santo de Qadiscia, que é considerado por eles como o berço da nação libanesa, porque nesses lugares inacessíveis começaram a trabalhar e a fabricar arados para, com muito esforço, poder cultivar a terra. Junto com os monges fugiram também muitos leigos que se estabeleceram próximos aos mosteiros e, assim, foram surgindo povoados e cidades sob a autoridade do Patriarca dos maronitas, que, desde o século VII, dirige seus fiéis dispersos como uma diocese independente, ainda que unida à Sé de Roma. Ao chegarem os cruzados à Palestina, no século XI, os maronitas os receberam de braços abertos, apoiando-os em suas lutas contra o Islã. Mas, ao terminar o domínio dos cruzados em 1244, foram perseguidos sob o jugo dos mamelucos até 1516 e, depois, pelo Império Otomano ficando, assim, sem poder se relacionar com o Ocidente. Durante a vida do Padre Charbel, em 1860, os drusos (uma seita muçulmana) massacraram os maronitas. Em menos de dois meses, mataram 22.000, destruíram 360 povoados, 560 igrejas e 42 conventos. Havia 10 mil órfãos e 3 mil mulheres foram vendidas para os haréns dos grandes senhores muçulmanos; cerca de 75 mil tiveram de fugir para outros países. Felizmente, interveio a França, a Inglaterra, a Prússia e a Rússia com uma expedição militar, dando ao Líbano uma nova Constituição em 1861. Segundo essa Constituição, o Líbano deveria ser governado por um cristão nomeado pelos turcos com o consentimento das potências europeias. Em 1920, após a primeira guerra europeia, o Líbano se libertou do jugo otomano e, a partir de 1926, permaneceu como protetorado da França até 1943, quando declarou sua total independência. De 1975 a 1990, houve uma terrível guerra civil, mas hoje é um país tranquilo, onde convivem, pacificamente, as diferentes religiões.