Pe. Pedro Magalhães Guimarães Ferreira SJ
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Nas últimas semanas de setembro de 1897, uma jovem e desconhecida freira carmelita agonizava na enfermaria do Carmelo de Lisieux, uma pequena cidade provinciana, localizada na Normandia, região ao noroeste da França.
A tuberculose já havia tomado seu pulmão direito e pouco lhe restava do esquerdo, o que lhe exigia uma pausa de alguns minutos entre cada palavra a pronunciar. A sensação de sufocamento era contínua e, já havia algum tempo, não dispunha de forças sequer para fazer o sinal da cruz. A expectativa de uma morte próxima fazia-se presente no pensamento das irmãs da comunidade.
Havia, à época, o costume de se enviar uma circular aos diversos Carmelos do país, após a morte de uma religiosa, relatando traços de sua vida, suas devoções e circunstâncias de seu falecimento.
Conta-se que, naquela ocasião, o seguinte diálogo foi ouvido, próximo à enfermaria do Carmelo: “O que irá se escrever sobre irmã Teresa?” — “Não imagino”, respondeu a companheira. “Ela entrou aqui aos quinze anos, está entre nós há somente nove anos, e nada observamos que tenha feito de especial!”
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As semanas que se sucederam viram o agravamento da doença. Ao cair da tarde do dia 30 de setembro de 1897, após o soar do
Angelus, a priora observa aquela jovem, seus lábios e mãos com coloração roxa, sua grande dificuldade em respirar, seu rosto subitamente mais pálido, trêmula e invadida por um suor frio que lhe escorre pela face, e percebe a iminência de sua morte. De imediato, convoca a comunidade para rezar em torno daquela irmã, que dava seus últimos sinais de vida. Às 19h20min, irmã Teresa, olhando seu crucifixo, busca o último sopro de vida para pronunciar sua última oração: “Oh! Eu o amo… Meu Deus… eu vos amo!”
[2] Sua cabeça pende para o lado, em um corpo já sem vida. É apenas uma jovem em seus 24 anos e sua existência foi uma curta, mas intensa vida de amor a Deus.
No dia 4 de outubro de 1897, após as cerimônias religiosas no Carmelo, o corpo da carmelita foi enterrado no cemitério de Lisieux, com a presença de pequeno grupo de familiares.
No Carmelo, ao cair da noite, uma irmã reza no silêncio de sua cela.
[3] É madre Agnès, Pauline, sua irmã carmelita e de sangue. Súbito, as lágrimas lhe vêm à face, quando recorda aquele dia de agosto, há vinte anos atrás, por ocasião da morte de sua mãe, Zélie Martin.
Naquele dia, aquela garotinha de quatro anos caminha ao seu encontro, lança-se nos seus braços e lhe diz: “Pois bem! quanto a mim, é Pauline que será minha mamãe”.
[4] Desde aquele dia, em que abraçara com tanto carinho a pequena Teresa, acompanhara de perto e de modo especial a trajetória de sua vida, interrompida em plena juventude. Agora, aquelas lembranças vinham à sua memória trazendo-lhe forte emoção.
Mas havia algo de especial, algo que tivera a oportunidade única de acompanhar e perceber, ao longo dos anos de convivência com sua
petite fille:
[5] seu extraordinário caminho espiritual e a ação da graça sobre aquela natureza feminina tão sensível.
Alguns anos atrás, quando priora do Carmelo, tinha solicitado à irmã que escrevesse suas memórias de infância. Relendo os manuscritos que recebera, havia percebido a simplicidade, a beleza e a profundidade dos pensamentos da
petite Thérèse .
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Com o agravamento da doença, havia sugerido à nova priora, madre Marie de Gonzague, que ela completasse suas memórias, o que a superiora tinha acatado de bom grado. Sua irmã mais velha, Marie, também carmelita, com o nome de Marie du Sacré-Coeur, havia lhe mostrado umas cartas que Teresa lhe escrevera um ano antes de sua morte. Eram páginas de uma beleza sem par.
Sentia que tinha nas mãos um tesouro que poderia fazer grande bem às almas. Havia dito à irmã, certa ocasião, que seria o arauto dela e que procuraria fazer amar e servir ao bom Deus propagando as luzes que Ele havia dispensado a ela e que jamais iriam se extinguir. Por que não publicar suas próprias palavras, em lugar da tradicional circular? — interrogava-se, pensativa, madre Agnès. Estava consciente de que era uma ideia nova e ousada, pois o Carmelo de Lisieux jamais havia substituído uma circular por escritos da própria irmã falecida.
Após algum tempo de reflexão, dirigiu-se à priora, sugerindo a publicação dos manuscritos de irmã Teresa, no lugar da circular, e, obtendo sua aprovação, começou a trabalhar nos textos, visando sua publicação.
Um ano após a morte da jovem religiosa, em 30 de setembro de 1898, foi lançada a primeira edição da
História de uma Alma,[7] livro que reunia textos de sua autoria.
A publicação revela-se um sucesso. Os dois mil exemplares da primeira edição logo se esgotam, e segue-se uma segunda, uma terceira e uma sequência de muitas outras, com traduções em mais de cinquenta idiomas.
O mundo descobria a jovem e desconhecida carmelita de Lisieux, irmã Teresa do Menino Jesus e da Santa Face. Os anos que se seguiram testemunharam uma extraordinária difusão da devoção à religiosa francesa.
Em 1923, irmã Teresa do Menino Jesus e da Santa Face foi beatificada por Pio XI. Dois anos após, em 1925, foi canonizada pelo mesmo Papa. A 14 de dezembro de 1927, Pio XI a declara padroeira de todas as missões católicas e de todos os missionários, junto com São Francisco Xavier. No centenário de sua morte, em 1979, o santo Papa João Paulo II concede-lhe o título de Doutora da Igreja.
O que Sta. Teresa do Menino Jesus e da Santa Face,
[8] “a maior santa dos tempos modernos”, conforme expressão do santo Papa Pio X,
[9] diria hoje sobre todos esses acontecimentos, essa história que vamos narrar neste livro? Certamente, o que gostava de repetir:
Tout est Grâce! [10]
A gênese do livro
A história desse livro tem sua origem há cerca de 60 anos, quando descobri Sta. Teresa de Lisieux, nos anos de minha juventude. Em 1959, finalizava o curso no Colégio Santo Inácio, dos padres jesuítas, na cidade do Rio de Janeiro. Os anos sessenta se iniciavam e, nos meus dezoito anos, preparava-me para ingressar na Faculdade de Engenharia. Foi nessa ocasião que, pela primeira vez, li alguns pensamentos do livro
História de uma Alma, que me impressionaram pela simplicidade, pela profundidade e, sobretudo, por virem ao encontro do que sentia e necessitava.
Até aquele momento, pouco conhecia sobre a santa carmelita. Aquela leitura, no entanto, tornou-se ponto de partida para um maior conhecimento de sua história e de seus pensamentos, que passaram a acompanhar-me ao longo de minha vida, sem jamais perderem sua força. Tempos mais tarde, nas pesquisas para escrever esse livro, descobri que um padre jesuíta, Henry Rubillon,
[11] de nacionalidade francesa, reconhecido por seus contemporâneos como um dos maiores divulgadores da vida e da espiritualidade de Sta. Teresa de Lisieux no Brasil, foi professor do colégio Santo Inácio de 1923 a 1931. Nascido na diocese de Bayeux, era chamado por Pauline e Céline, irmãs de Teresa,
le héraut brésilien de Thérèse (o arauto brasileiro de Teresa).
Os tempos que se seguiram foram de vida universitária, na Faculdade de Engenharia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), onde fiz especialização na área de telecomunicações.
O Brasil, àquela época, iniciava grande trabalho de implantação de uma moderna infraestrutura nacional de telecomunicações. Ao terminar a faculdade, fui convidado a participar da equipe que iria conduzir esse grande projeto, atividade que absorveu minha vida profissional. Sistemas de rádio, fibras ópticas, satélites, passaram a fazer parte do meu dia a dia. Durante esse período, um casamento e três filhas, trazendo todas as exigências e preocupações de uma vida familiar, que, somadas às geradas pela atividade profissional, me absorviam por completo, deixando uma ou outra ocasião para uma breve leitura de Teresa.
Com a proximidade do tempo de aposentar-me e com interesse futuro em atuar na área acadêmica, voltei ao campus universitário com a meta de obter um diploma de mestrado na área de telecomunicações.
Em 2004, após quase quarenta anos de trabalho e com diploma de mestrado, aposentei-me. Pouco tempo após, a PUC-RJ convidou-me para ministrar cursos de pós-graduação. A atividade acadêmica motivou-me a escrever um livro sobre a implantação da moderna rede de telecomunicações digitais no Brasil, da qual tinha participado.
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Com trabalho menos intenso, a vida oferecia-me agora o que não dispunha antes, tempo para conhecer melhor a vida e a doutrina de Sta. Teresa do Menino Jesus. Foi então que surgiu excelente oportunidade para um maior conhecimento da santa carmelita.
Em 2008, o
Institut d’Études Thérésiennes — IET,
[13] com sede em Lisieux, França, dirigido por padres carmelitas, iniciou o primeiro ciclo de estudos sobre sua vida e sua obra. Programado para o mês de julho dos anos 2008, 2009 e 2010, previa palestras, leitura e interpretação de escritos teresianos, e realização de trabalhos em grupo.
Foi com grande satisfação que tive meu nome aceito para participar desse primeiro ciclo, integrando um grupo formado por quarenta religiosos procedentes de vários países, e cinco leigos, sendo quatro franceses. As sessões tiveram como eixo temático os três principais manuscritos autobiográficos, estendendo-se ao campo da literatura, da historiografia, da espiritualidade, da teologia, da mística e outros tópicos correlatos.
Os estudos foram conduzidos por grandes especialistas em Teresa de Lisieux, entre outros: Mons. Guy Gaucher O.C.D, Bispo emérito de Bayeux-Lisieux; Fr. Olivier-Marie Rousseau O.C.D, Provincial dos Carmelitas de Paris; Fr. Philippe Hugelé O.C.D, Doutor em teologia e diretor do IET; Irmã Camille Bessette O.C.D, arquivista do Carmelo de Lisieux; Fr. François-Marie-Léthel O.C.D, Doutor em teologia e professor do Teresianum, Roma; Fr. Marc Fortin O.C.D, professor de história; Elyane Casalonga, especialista em mística e professora do Institut Catholique de Paris; Fr. Denis-Marie Ghesquières O.C.D, superior do Carmelo de Avon.
A viagem à França não se restringiu à aquisição de cultura histórica e doutrinal teresiana. Visitamos locais relacionados à vida de Teresa, em Alençon, sua cidade de origem, e em Lisieux. Em paralelo às atividades de estudo e visitas, houve também um lado espiritual, a participação em missas e orações, e, algo inédito na história do Carmelo, a possibilidade de se visitar parte de seu interior, inclusive a enfermaria onde irmã Teresa passou seus últimos meses. Tudo isso trazia emoção, vida e cor ao que havia lido em sua história.
Em 2010, ao retornar ao Brasil, decidi iniciar o presente livro. Foram tempos de novas leituras, pesquisas e reflexões, de algumas palestras sobre a santa carmelita e, como sempre, de vida familiar intensa e de encontro com amigos.
Outro livro sobre Sta. Teresa de Lisieux?
Muito já se escreveu sobre Teresa, o que motiva a pergunta: Por que outro livro? O Pe. Bernard Bro compara seus pensamentos a uma torrente de água transparente que desce das altas montanhas geladas, cobertas de neve. Impossível avaliar a profundidade do curso d’água se não existirem algumas rochas no fundo do leito que façam surgir pequenas bolhas, que, subindo celeremente à superfície, permitam avaliar um pouco mais sua profundidade. Como ele comenta: “[…] há mais de cem anos de distância [da morte de Teresa], estamos longe de conhecer toda a profundidade de suas intuições”.
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Os livros destacam-se por abordarem quatro grandes campos de estudo: I. Trabalhos de natureza histórica, como biografias; II. Edições críticas dos textos originais; III. Análises sobre sua personalidade, sob o enfoque psicológico; e, IV. Interpretações teológicas, doutrinais e pastorais sobre algum tópico de sua espiritualidade.
Nessa extensa literatura, encontram-se os mais diversos tipos de autores: religiosos, teólogos, historiadores, professores, filósofos, poetas, psicanalistas, médicos e renomados escritores, como Jean Guitton, Ida Göres, Catherine Rihoit, Dimitri Mérejkovsky, e outros que, apesar de não terem escrito uma obra a ela dedicada, não deixaram de citá-la e reverenciá-la, como: George Bernanos; Emmanuel Mounier; Maurice Blondel; Paul Claudel; Daniel-Rops; Maurice Zundel.
Este livro, entretanto, não é escrito por um romancista, teólogo ou mesmo por um religioso, circunstância que revelará escolhas e deixará traços na perspectiva de como ela é vista, como sua vida e pensamentos são retratados. Representa, nessa perspectiva, uma leitura atual de Sta. Teresa de Lisieux sob o “olhar de um leigo, de um engenheiro”.
Duas motivações nos levaram a escrevê-lo. Primeiramente, o desejo de compartilhar os conhecimentos que tive oportunidade de adquirir sobre a santa carmelita, particularmente em uma rica literatura teresiana francesa. A segunda motivação se prende à esperança de que o livro se torne uma ponte, um convite ao leitor a ir diretamente aos textos originais de Sta. Teresa.
Mas por que convidar o leitor a ir diretamente aos textos teresianos? Todos sabem e repetem que vale mais ler os originais dos próprios santos do que as linhas que escrevem seus intérpretes. Pe. Philippe de la Trinité, eminente professor e teólogo carmelita, escreveu uma obra sobre a doutrina de Teresa. Ao iniciar suas conclusões, registra: “Irei basear-me sobre o que li e meditei ‘de Teresa em Teresa’, por mais de 45 anos. Pela expressão ‘de Teresa em Teresa’ quero dizer que jamais fui atraído por seus intérpretes. Quereis conhecer Sta. Teresa do Menino Jesus? Leia seus escritos. Quereis conhecê-la ainda melhor? Releia seus textos e releia-os novamente. Teresa, com efeito, é, ao mesmo tempo, simples e profunda, acessível e inesgotável. Ela se explica por si mesma”.
[15] Em outras palavras, diríamos que os livros com seus intérpretes ajudam a compreensão dos pensamentos dos santos, esclarecem certos aspectos de sua doutrina, apontam direções de aprofundamento e de reflexão de sua mensagem, mas não substituem seus textos originais.
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Nos escritos de Sta. Teresa de Lisieux existem, entretanto, duas características que os tornam particulares. Primeiramente, ela não nos deixou um tratado doutrinal bem definido, onde se possa encontrar a essência de sua mensagem em um único texto. Encontra-se Sta. Teresa nas entrelinhas de seus manuscritos, nas estrofes de suas poesias, nas mensagens de suas cartas, nos diálogos de suas peças teatrais. É difícil elaborar uma síntese de seus pensamentos.
Sua espiritualidade é uma história de amor evangelicamente vivida, registrada em seus diversos textos. Muitas vezes, um pensamento manifestado em um manuscrito autobiográfico é retomado numa carta ou numa estrofe de uma poesia, complementando-o, ou estabelecendo uma maior profundidade de sentido. Essa característica de seus textos oferece ao leitor grande espaço para uma construção própria e descobertas pessoais.
Já em 1948, o padre André Combes, historiador e teólogo, pioneiro no estudo de sua espiritualidade, comentava os matizes de subjetividade que encontrava nas diversas apreciações da doutrina de Sta. Teresa e explicava: “Tudo se passa, em grande parte, de um lado, devido à diversidade e à intensidade de sentimentos que são despertados por Teresa de Lisieux; de outro, pela extraordinária generosidade e, por assim dizer, ubiquidade dessa santa. Cada um a implora para si mesmo. Cada um a representa sob o aspecto pelo qual tem necessidade de a ver. E, como Teresa de Lisieux responde a todo apelo, como vai ao encontro de todas as consciências, decorre que cada um a descreve à imagem de seu desejo e das graças que recebeu”.
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Uma segunda razão que nos faz sugerir ao leitor ir ao encontro dos textos teresianos se prende às citações que refletem a simplicidade mística de sua espiritualidade. Ela dizia: “O Evangelho me ensina e o coração me revela”.
[18] Sta. Teresa é essencialmente coração. Como dizem certos autores, sua teologia é uma
théologie du coeur, uma “teologia do coração”, em contraste, por exemplo, com a teologia de São Tomás de Aquino, que solicita mais a inteligência da razão. Em Sta. Teresa, trabalha-se com a inteligência do coração.
Em duas cartas, referindo-se à relação com Jesus Cristo, uma dirigida à sua irmã Léonie e outra ao missionário Bellière, ela repete a mesma expressão: “É preciso tê-lo [Jesus] pelo coração”.
[19] A experiência espiritual, ou como ela expressava, “a intuição que parte do coração”, é fruto da ação da graça e da sensibilidade da alma de cada pessoa, e a melhor maneira de revelar essa parte de Teresa é convidar o leitor a descobri-la por si mesmo, na leitura silenciosa de seus escritos. Catherine Rihoit, escritora francesa normanda, escreveu um livro sobre Sta. Teresa.
[20] Ao referir-se à sua obra, assim se expressou: “[…] decidi falar dela como ela me falou, quer dizer: bem simplesmente, bem diretamente, bem pessoalmente. Mas, quando tentei defini-la um pouco mais, percebi que Teresa de Lisieux é o segredo de cada um”.
A organização
Quando comecei a aprofundar-me em Sta. Teresa de Lisieux, deparei-me com uma extensa literatura. Notei, porém, que, de uma maneira geral, as obras eram dedicadas a um determinado tema, como por exemplo: sua biografia; sua doutrina; suas poesias; correspondências com os missionários, etc. Tal fato conduziu-me a ler vários livros para poder, como a compor partes de uma história, dispor de uma visão que cobrisse sua vida, sua doutrina, além de fatos importantes ocorridos após sua morte.
Percebi, com o correr do tempo, que, passados mais de cem anos de sua morte, esse acervo de informações não era estático, pelo contrário, mantinha-se em contínuo e rápido crescimento. A cada ano, novos livros, artigos e teses de doutorado em teologia eram publicadas sobre algum tema comentado em seus escritos. Peças teatrais, filmes e uma rica iconografia surgiam continuamente, compondo um dinâmico “universo teresiano” de cultura histórica e religiosa.
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Assim, ao organizar o livro, tive em mente minha experiência passada e presente. Procurei organizá-lo dentro de uma perspectiva pedagógica, que oferecesse, particularmente ao público brasileiro, uma visão geral da história de Sta. Teresa de Lisieux, partindo de suas raízes, percorrendo sua vida e doutrina, destacando a maneira como a Igreja a acolheu após sua morte, e, finalmente, o título de Doutora da Igreja.
Nossa expectativa é que o livro venha ao encontro daqueles que desejam conhecer ou aprofundar seus conhecimentos sobre a santa de Lisieux. Não se trata de uma obra de cunho teológico ou uma exegese de sua doutrina, mas creio que aqueles que desejarem realizar algum trabalho nessa direção poderão encontrar, ao longo dos capítulos, uma fonte de inspiração e referências para realizar estudos nessa área.
Elaboramos o livro em seis partes distintas, ordenadas segundo critério de progressivo conhecimento da santa carmelita. Inevitavelmente, alguns pontos se entrecruzam, pois, em Teresa, vida e espiritualidade formam uma unidade. A consequência é a repetição de comentários, que procuramos minimizar, mas que, reconhecendo-os, esperamos serem compensados pelo aprofundamento das intuições teresianas, tornando-as mais vivas.
A primeira parte é dedicada às suas origens, a terra escolhida em que suas primeiras raízes se criaram e desenvolveram. A segunda parte tem por tema sua vida. Constitui-se de uma referência para a compreensão de sua espiritualidade, pois esta é, antes de tudo, o caminhar de Deus em sua alma, nos acontecimentos que teceram seus dias na terra. A terceira parte aborda seus textos, destacando os diferentes estilos literários e aspectos históricos relacionados à elaboração e publicação de seus escritos. A quarta parte concentra-se em sua espiritualidade. É a parte central e a mais importante do livro. As demais, com conotações mais históricas, representam, por assim dizer, uma moldura a situar a história de Teresa. Procuramos tratar esse tema com simplicidade e profundidade, conforme a própria santa nos apresenta em seus escritos. A quinta parte é reservada para a história da beatificação e da canonização. A sexta dedica-se ao último título que a Igreja lhe concedeu — o de Doutora da Igreja.
Procurou-se uma apresentação em estilo simples, que proporcionasse, como salientou o Papa Paulo VI: “[…] um eco profundo à sua aventura espiritual, e sempre com o pensamento escrupulosamente atento e respeitoso à autenticidade e rigor dos fatos e ao papel misterioso da graça”.
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