Apresentação
Há uma bela música que diz assim:
“Minha alegria é estar perto de Deus...porém agora estarei sempre convosco, porque Vós me tomastes pela mão...”.
A maior riqueza de cada um de nós, batizados, é ter a consciência permanente de que “Deus habita em nós”. O que mais poderíamos desejar? No entanto, poucos vivem esta certeza e esta glória.
“Deus habita no meu coração...” diz outra bela música. O cristão é uma criatura que “Deus invadiu” e fez nela Sua morada desde o batismo. Quanto mais ele toma consciência dessa realidade, mais é penetrado por ela e mais sente a necessidade de apegar-se e entregar-se a Deus.
O profeta Isaías disse algo que se tornou realidade:
“Chamei-te pelo nome, és meu” (Is 43,1). “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir; forçaste-me e me venceste” (Jr 20,7).
A vida cristã não é outra coisa senão a tomada de consciência do laço que nos une a Deus, e faz Dele depender. Quando o nosso coração for dominado por Deus seremos capazes de sacrifícios heroicos. O amor a Deus é perfeito quando tem a coragem de ir até o sacrifício, por amor a Ele.
O desejo de Deus é a melhor preparação para acolhê-lo.
Deus não é um legislador que nos impõe medo; é um Pai amoroso que habita em nós. Deus nos pede uma coisa: o coração! Quando lhe entregamos o nosso coração, Ele se entrega a nós. Dar o coração a Deus é ter um único amor, é entregar-se e comprometer- se a pertencer totalmente Àquele que se entrega a nós. Jamais nos esquecemos dos presentes que nos são dados de coração, mesmo que tenham pouco valor material.
Tudo isso faz parte da boa espiritualidade que o querido amigo Padre Francisco Faus nos ensina neste livro. Ele é um experiente formador e diretor espiritual, nascido em 1931 em Barcelona, doutor em Direito Canônico, que conviveu com o Santo Josemaria Escrivá, um especialista em espiritualidade cristã. E vive no Brasil há cerca de 50 anos.
Nesta obra, Para estar com Deus, Padre Faus nos ajuda a mergulhar no mais profundo dessa realidade: Deus habita em nós. Somos templos da Trindade Santíssima. Mas, depende de nós estarmos com Deus; Ele pode estar em nós, mas nós não estarmos com Ele...
Rogo a Deus que sua leitura e meditação possa fazê-lo (a) crescer na fé, na esperança e na alegria de viver na comunhão permanente com Deus.
Prof. Felipe Aquino
Introdução
Ao nos despedirmos de uma pessoa, muitas vezes dizemos: «Vá com Deus, fique com Deus». É a melhor coisa que lhe poderíamos desejar, porque «estar com Deus» significa estar com a fonte de todo o bem e de toda a felicidade: com o Amor sem fim. Deus é amor – diz São João –, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus nele (1 Jo 4,16). Por isso, Santa Teresa de Ávila podia afirmar, com a força de uma experiência vivida: «Quem a Deus tem, nada lhe falta».
Este livro foi escrito com a esperança de ajudar o leitor a estar com Deus, a estar habitualmente com Ele, realizando assim o desejo de Jesus: Permanecei no meu amor (Jo 9,9).
Não se trata de uma coleção de aulas teóricas – embora tenham sempre presente a doutrina católica –, mas de experiências, sugestões concretas para ir alcançando a vida interior (tão necessária a todos nós, excessivamente presos às coisas exteriores!), a fim de que, tendo Deus bem no íntimo da alma, possamos ser portadores de Deus, outros Cristos – assim se chamavam os primeiros cristãos –, e levar a luz, o calor e a paz de Deus ao próximo e à sociedade em que vivemos.
Esses conselhos práticos inspiram-se na grande tradição espiritual da Igreja, especialmente nos ensinamentos de São Josemaria Escrivá. Ele mostrou caminhos de vida interior e de santidade de vida ao alcance dos fiéis cristãos comuns, que vivem e trabalham no meio do mundo e aos quais se dirige principalmente este livro.
A ORAÇÃO
Senhor, a quem iríamos nós?
Tu tens palavras de vida eterna.
E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus.
Jo 6,69
- Deus sempre nos fala
Vamos começar as nossas reflexões sobre a vida interior dedicando algumas meditações à oração, que é a respiração da alma, o bater do coração cristão, uma necessidade vital para os filhos de Deus.
Para início de conversa, lembremos que fazer oração é falar com Deus. A Bíblia diz que Deus e Moisés conversavam como um homem fala com seu amigo (Ex 33,11). Jesus, que é Deus feito homem, conversava com os apóstolos, com Marta e Maria..., e os chamou de “amigos” (Jo 15,15).
Os verdadeiros amigos (que não são muitos) falam com confiança, de alma aberta. Sabem escutar um ao outro, contam-se o que trazem no coração, abrem-se com plena sinceridade. Assim deveria ser a nossa oração, ou seja, a nossa conversa com Deus.
Mas você talvez me diga: “Eu falo, eu digo coisas a Deus, melhor ou pior, mas falo. Falo – em voz alta ou mentalmente – sempre que rezo: Pai nosso! Jesus, eu te amo!, etc. Não digo que seja fácil rezar de verdade, mas o que não sei mesmo é como posso ouvir a Deus. Em que consiste ouvir a Deus?”.
(...)