Introdução
Pentecostes é a festa de gala da natureza. O céu, na realidade, espalhou sobre a terra o espírito de vida. A vida expande-se em torrentes de luz e de calor, ondula-se nas espigas douradas das colheitas, balança-se nos ramos carregados de frutos; faz brotar na verde folhagem “rosas de Pentecostes”[1] cujo escarlate assemelha-se a línguas de fogo caídas do céu. A terra amadurece seus tesouros, prepara uma esplêndida festa; por toda parte desenfreia a vida. A passarada toda, inclusive os rouxinóis, gorjeiam; as árvores da floresta inclinam-se ao sopro da vida, sussurram e parecem falar como num sonho. É a natureza que celebra a Festa de Pentecostes.
Pentecostes é também a festa de gala do Ano Eclesiástico. Através do horror e das tempestades do inverno, o Sol da Justiça nos apareceu; na Páscoa, mostrou-se na sua glória; na Ascensão, chegou ao apogeu, e agora recebemos o fruto de sua exaltação e de sua atividade: envia-nos o Espírito Santo, para que fique conosco e termine a sua obra. Sim, a descida do Espírito é o fruto maravilhoso da vida e dos sofrimentos de Jesus, é a realização e a consumação de todas as promessas divinas; sua obra é de recolher as colheitas dos campos da nova vida, que o Salvador semeou e cultivou. A última época do mundo pertence ao Espírito Santo.
É ao Espírito Santo que consagramos estas páginas. Querem ensinar a melhor conhecê-Lo e a melhor amá-Lo. A tarefa não é fácil. O Espírito Santo é muito conhecido para que se possa não falar n’Ele; e é muito pouco conhecido para que se possa falar n’Ele, de modo a sensibilizar os corações e a esgotar o tema. Segundo a palavra do Salvador, o Espírito Santo pode-se comparar ao vento da primavera (Jo 3, 8): sente-se-lhe o suave e doce impulso, veem-se as maravilhas que opera; e ninguém sabe de onde veio e para onde vai.
Livros não faltam, que falam dos dons e da ação do Espírito Santo, mas bem poucos, neste número, sabem dirigir-se ao coração e fazer amar o Autor mesmo destes dons. O Espírito Santo não se apresenta aos nossos olhos como o Filho; não se revestiu da nossa humanidade para vir ao nosso encontro aqui na terra; permanece nas insondáveis profundezas da Divindade (1Cor 2, 10); e mesmo quando está agindo em nós, sua ação encerra-se no segredo e no silêncio da alma. Na Divindade e em nossa alma, o Espírito Santo é por assim dizer um abismo; como interrogá-Lo? O desejo é ainda maior de contemplar o Amor incriado de onde nos vêm todos os bens.
Primeiramente procuraremos penetrar, com o olhar, no coração mesmo da Divindade, onde o Espírito Santo vive e reina para sempre, e estudaremos os amáveis atributos de sua Pessoa divina. Deixando então estas considerações, seguiremos o Espírito Santo nos diversos modos de sua ação, até que Ele nos leve ao seio da adorável Trindade.
Teremos assim ocasião de tocar em quase todas as questões que interessam a vida espiritual, porque a vida, e sobretudo a vida sobrenatural, por seus elementos os mais íntimos, se prende ao Espírito Santo. Após esta excursão no domínio do Espírito Santo, recolheremos em nosso coração, como lembrança destas meditações, a resolução de honrarmos o Espírito; indicaremos a maneira de fazê-lo.
Para nos guiarem nesta viagem, tomamos primeiramente os antigos mestres em Teologia, e particularmente S. Tomás de Aquino, seus discípulos e comentadores antigos e modernos, e ainda alguns autores, em cujos trabalhos encontramos excelentes tratados sobre o Espírito Santo.
Estas meditações podem ser de alguma utilidade para os fiéis; servirão sobretudo para os Padres e Religiosos.
Espírito Santo, infinita Majestade do Amor, grande Amigo de nossas almas, Vós que nos fostes dado no Batismo para nos conduzir à felicidade na eterna mansão dos justos, possa esta obra, imperfeita sem dúvida, mas inspirada por um filial amor, contribuir para Vossa glória! Abençoai este trabalho! Trazer uma só alma a crer em Vós de uma fé viva, a Vos amar sinceramente, que magnífica recompensa para meus pobres esforços!
[1] Nome da peônia, em alemão.