Introdução
Quem vá de peregrinação à Terra Santa, tem oportunidade de passar por Taimbé, a antiga Efrém ou Efraim bíblica, povoação para onde Jesus se retirou antes da Paixão, segundo refere o quarto Evangelho:
“Jesus[...] retirou-se para uma região vizinha do deserto, para uma cidade chamada Efraim, e ficou por lá com os discípulos”.[1]
Nessa localidade, o peregrino que entrar na igreja da paróquia católica, pode descobrir, a um canto do vitral da janela do coro, o retrato de Charles de Foucauld. E se pretender demorar-se algum tempo nessa povoação, onde a grande maioria dos habitantes são cristãos, não precisa senão de se dirigir ao Centro “Charles de Foucauld”, construído por conta da Ordem do Santo Sepulcro e inaugurado em 1986. Já isso dá a entender como em Taimbé é bem conhecido o irmão Charles e a sua predileção por este lugar referenciado nos evangelhos.
Com efeito, todos os anos, desde a sexta-feira antes do 3.º domingo da Quaresma até à terça-feira depois do 4.º domingo, ele aí continua “em retiro”, em companhia do seu Mestre e Senhor, sumido entre o grupo dos discípulos, junto de Maria, Mãe de Jesus, e de Maria Madalena, modelo escolhido na contemplação do seu Bem-amado.
As reflexões espirituais apresentadas neste volume foram escritas por Charles de Foucauld e por ele intituladas: “1898. Retiro de 8 dias em Efraim, desde segunda-feira após o 3.º domingo da Quaresma até segunda-feira após o 4.º domingo da Quaresma”. E na última linha especifica: “Fim do retiro em Efraim”. Ao lerem estas reflexões, os cristãos são convidados ainda hoje a passarem uns dias de retiro com ele em Efraim. Mas teria ele de fato saído do seu eremitério de Nazaré, de 14 a 21 de março de 1898, para se recolher em outro situado nas colinas desérticas que envolvem a povoação de Efraim?
Apesar de o título do manuscrito sugerir uma deslocação física, e não obstante as notícias no mesmo sentido transmitidas oralmente em Taimbé, pode-se afirmar com toda a certeza que esse retiro de 1898, bem como outros em anos subsequentes, só “em espírito” tiveram lugar em Efraim: o corpo físico do retirante continuava junto ao mosteiro das Clarissas de Nazaré. Como prova disso, basta ler o que ele mesmo pouco antes (em 28 de janeiro) escrevia ao Padre Jerônimo a explicar o seu método de meditação:
“Ainda estamos na quadra do Natal; eu corporalmente encontro-me em Nazaré, mas espiritualmente há mais de um mês vivo em Belém. Estou a escrever-lhe ao lado do presépio, entre Maria e José”.
E continua:
“Quatro semanas antes da Páscoa, iremos ressuscitar Lázaro a Betânia, onde passaremos um ou dois dias, e de seguida iremos fazer um retiro de oito ou dez dias em Efraim, sete léguas a norte de Jerusalém. Essa povoação fica em um alto, de onde se avista parte da Judeia, as planícies dos Filisteus, o Mediterrâneo, as terras de além-Jordão, os montes da Pereia e o Mar Morto — um panorama maravilhoso! Serão os últimos dias de repouso do nosso Irmão”.
[2]
Alguns dias mais tarde diz que se associa às intenções do mesmo Padre Jerônimo, que entre 17 e 25 de março fará um retiro de preparação para Ordens menores:
“Na novena de 17 a 25 de março, tenciono ouvir missa, comungar e rezar o rosário por ti na própria gruta da Anunciação”.[3]
Ora, essa gruta fica situada em Nazaré, onde ele na realidade se encontra “fisicamente”. E é nesses dias, nem mais nem menos, que ele se considera em Efraim “a fazer retiro com Jesus”, mas apenas “em espírito”, é claro.
Em março de 1905, encontrando-se ele em Beni-Abbès, revive — também apenas em espírito, evidentemente — a sua peregrinação para Efraim, no encalço de Jesus:
“Meu Deus, eu vos adoro enquanto caminhais, ao dirigirdes-vos para Efraim. Com todo o ânimo me associo à Santíssima Virgem, a Santa Madalena, a São Pedro, a São João. Ouço-vos a falar. Vou-vos escutando enquanto caminho em companhia dos vossos discípulos. Tenho a impressão de estar a ouvir as vossas palavras. Estes dez dias que vou passar em Efraim são os últimos dias de retiro e solidão da minha vida. Por isso me vou empenhar em vos incutir força e coragem antes da minha Paixão. Fazei, meu Deus, que eu aproveite estes dez dias segundo os vossos desígnios, de modo a estimular-me para toda a vida, pela oração e pelo conhecimento cada vez mais profundo da vossa pessoa e da vossa vontade. Sejam estes dez dias verdadeiramente santos, dedicados por completo à oração e à escuta da vossa palavra”.[4]
A consulta dessas meditações, escritas entre 24 de março e 3 de abril de 1905, permite descobrir outra modalidade de “retiro em Efraim” de Charles de Foucauld.
Todos os anos, portanto, ele empreende essa
viagem espiritual, a fim de “fazer companhia a Jesus Nosso Senhor”, segundo um plano do ano litúrgico que talvez tenha adotado desde a Trapa, e de que se conservam vestígios nos seus Escritos espirituais, como nas Considerações sobre as festas do ano
[5], e, sobretudo, no “Ensaio para fazer companhia a Nosso Senhor Jesus”.
[6]
Formuladas estas reservas sobre o lugar onde terá sido redigido o “Retiro em Efraim”, convém lembrar que o visconde Charles de Foucauld já tinha subido a esse venerável lugar evangélico como peregrino da Terra Santa no inverno de 1888-1889 — exatamente a 2 de janeiro de 1889. Nove anos mais tarde, ao evocar, na carta de 28 de janeiro de 1898 endereçada ao Padre Jerônimo, o maravilhoso panorama que daí se desfruta, o autor ainda revive o encanto da descoberta de um local que por certo também Jesus apreciou e cujos caminhos calcorreou, onde sem dúvida orou ao Pai e desabafou com os amigos, na quadra da vida em que já sentia iminente a ameaça da morte e via bem perto o Calvário — e onde, entretanto pôde repousar um pouco.
O relevo dado à estadia de Jesus em Efraim, pouco explorada pelos comentadores dos Evangelhos, faz parte das intuições de Charles de Foucauld, por enriquecer a breve referência de João
[7] com elementos que, embora sem qualquer valor histórico ou exegético, lhe conferem enorme importância mística. Para ele, os dias passados por Jesus em Efraim representam a preparação da Paixão, como os quarenta dias passados no deserto prepararam os três anos da vida pública.
Mas a interpretação vai mais longe: a presença de discípulos em Efraim leva também o Jesus de Charles de Foucauld a ser “repetidor”, a recordar-lhes o sentido dos acontecimentos da sua infância e da vida oculta, a reiterar o essencial do seu ensino, a atualizá-los na novidade da Palavra, ouvida porventura sem grande atenção durante as viagens apostólicas, a “confidenciar-lhes ao ouvido” os segredos do seu Coração, a fim de que mais tarde, após a sua partida, eles os “proclamassem sobre os terraços”.
[8] Para Carlos, atento ouvinte e “irmãozinho” de Jesus, a semana de exercícios espirituais é animada pelo mais excelente dos pregadores: orientada pelo próprio Mestre bem-amado, é uma evangelização especialmente destinada a ele, um Evangelho pessoal recolhido do Evangelho universal.
Logo no início, o autor escreve em subtítulo: “Evangelho segundo São Lucas”. Efetivamente, é desse Evangelho, escolhido como linha de orientação, que apresentará 37 referências. No entanto, como os Evangelhos só viriam a ser escritos muito depois de Jesus os ter vivido e pregado, não se apontam os textos de referência; apenas se alude ao seu teor nas próprias expressões de Jesus. A fim de sermos fiéis ao manuscrito, não integramos no texto as citações dos versículos referenciados, indicando-as somente em notas de rodapé.
Não será difícil ao leitor atento acompanhar o ritmo das meditações. Nos dois primeiros dias, segunda e terça, contempla-se a vida oculta de Jesus: a encarnação, a visitação, o nascimento, a circuncisão, a apresentação no Templo, a vida em Nazaré, a “perda” no Templo aos 12 anos, e em seguida a passagem à vida pública: o batismo, o retiro e as tentações no deserto. Nos três dias seguintes, quarta, quinta e sexta, revive-se a sua vida pública: o seu ensino nas sinagogas, a rejeição por parte dos conterrâneos de Nazaré, as curas, as vigílias noturnas, a defesa dos apóstolos, dos pobres e dos desamparados perante os opressores, a sua pregação corajosa, as bem-aventuranças, o duplo mandamento do amor, a sua atitude de compaixão, o convite à confiança na sua presença permanente, o anúncio do dom da Eucaristia, a predição da Paixão e morte na cruz.
Em todos os atos, exemplos e palavras do Mestre, dá-se o maior relevo às virtudes ensinadas; e os três últimos dias do retiro são consagrados ao exame dessas virtudes. Conhecendo-se os temas prediletos de Charles de Foucauld, torna-se fácil descobrir a lista das virtudes do seu “Modelo Único”: coragem, humidade, doçura, obediência, amor, oração, verdade, fé, esperança, vigilância, santidade, penitência, caridade material e esmola, caridade espiritual e bondade para com o próximo, com particular insistência sobre a pobreza, a oração e a humildade, e “antes de mais nada o amor a Deus e a todos os homens”.
O último texto comentado, à guisa de conclusão do retiro, é o versículo 10 do capítulo 17 de São Lucas: “
Assim também vós, quando tiverdes feito tudo quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis; apenas fizemos o que nos competia fazer”. Não se pense, porém, que tal citação tenha sido escolhida por quadrar bem como comentário final, uma vez que o retiro terminava ao entardecer de segunda-feira após o 4.º domingo da Quaresma, 21 de março de 1878. Seria interpretar mal o respeito de Charles de Foucauld pela cronologia, considerar isto como simples questão de datas. Para ele, o citado versículo de Lucas deve-se entender relacionado com a estadia de Jesus no deserto de Efraim, referida em João
[9], e seguida com a prossecução da viagem para Jerusalém, de que o mesmo Lucas fala no versículo seguinte.
Estas pormenorizações topográficas assinalam, portanto, o princípio de um último desvio de Jesus, no intuito de evitar ser preso, segundo os planos dos seus adversários, após a ressurreição de Lázaro. Esse desvio tê-lo-ia levado a Cafarnaum, de onde via vale do Jordão e Jericó, partiria para Betânia. Para organizar desta maneira as últimas semanas do Mestre, Charles de Foucauld apoia-se em autores dignos de crédito, e conforma-se com a descrição da vida de Jesus por ele mesmo delineada para sua devoção pessoal. Com efeito, no seu “Ensaio para fazer companhia a Nosso Senhor Jesus” escreve:
“Terça-feira (18 dias antes [da morte de Jesus] Em companhia daqueles que levara consigo a Efraim, Nosso Senhor deixa essa terra, e através da Samaria dirige-se a Cafarnaum. Provavelmente passa a noite na região de Siquém (nos arredores de Nablus ou Rafidia). Quando caminhava para Jerusalém, Jesus passou através da Samaria e da Galileia” (Lc 17,11)”.[10]
Segundo este critério de distribuir os capítulos de São Lucas, as passagens que se seguem
[11] não poderiam ter sido evocadas por Jesus em Efraim a não ser como predições.
A constatação deste processo de redação mostra bem que os Escritos Espirituais de Charles de Foucauld não são para ler superficialmente, sob pretexto de, por vezes, serem repetitivos, talvez, mesmo afetados por uma redação despretensiosa ou por uma enfadonha fantasia amorosa; tudo quanto ele projeta, escreve e compõe, brota de uma personalidade rigorosa e metódica, de quem domina perfeitamente o assunto versado e o trata com o máximo esmero e respeito. O “Retiro em Efraim” também neste aspecto caracteriza bem o singular carisma de Charles de Foucauld.
Como aconteceu com outras meditações desses anos passados em Nazaré, o autor escreveu o “Retiro em Efraim” em envelopes de cartas recebidas por ele
[12], e de outras dirigidas à Madre Abadessa das Clarissas. As páginas 105 e 106 do manuscrito foram mesmo redigidas no verso de dois recibos de registos, carimbados em 15 de março de 1898 na estação de correios de Nazaré, referentes a uns livros que madama de Bondy, por sugestão do irmão Carlos, oferecera à biblioteca das Clarissas!
Foi em tão humilde suporte, em depreciados pedaços de papel, porventura condenados ao lixo ou ao fogo, que ele, exprimindo à uma a felicidade de se poder servir deles e a pena de o fazer tão frouxamente, eternizou as suas reflexões sobre Jesus. Graças a essas pobres folhas, temos ainda hoje a possibilidade de apreciar a sua visão espiritual e teológica do Evangelho, e sobretudo, de quem o Evangelho anuncia e é nele anunciado.
Alguns extratos do “Retiro de oito dias em Efraim” foram selecionados por René Bazin para
Écrits spirituels de Charles de Foucauld, ermite au Sahara, apôtre des Touaregs.[13] Essas páginas revelaram ao grande público o entranhado amor de Charles ao Senhor Jesus, a sua devoção à Virgem Maria e a Maria Madalena, a sua atitude inaciana de “pobrezinho mendigo e escravo”, e muito contribuíram para a fulgurante irradiação do seu autor durante várias gerações. O texto completo dessas meditações foi publicado em 1975 por “Nouvelle Cité” na edição integral dos
Escritos espirituais de Charles de Foucauld, sob o título
Crier l’Evangile. A mesma editora apresenta agora uma reedição desse texto, revisto a partir do manuscrito original.
* * *
Na edição integral, os Retiros na Terra Santa têm o número IX e ocupam dois volumes: o primeiro, sob o título La Dernière Place — “Retraite à Nazareth” (1897) — foi reeditado em 2002; o segundo, com o título Crier l’Evangile, corresponde à presente edição, em que ao “Retiro de oito dias em Efraim” se acrescenta outro texto do autor, “Opção feita em Nazaré em 26 de abril de 1900”.
Tendo a Páscoa em 1900 sido celebrada em 15 de abril, as datas comemorativas da estadia de Jesus em Efraim já tinham ocorrido cerca de um mês antes, e a “Opção” de 26 de abril não corresponde ao fim de um retiro. Mas justifica-se a inclusão desse texto a seguir a “Crier l’Evangile”. O ordenamento determinado pela Postulação para o Processo dos Escritos inclui este na seção B: Retiros, colocando-o à cabeça dos Retiros feitos para as ordenações de subdiácono, diácono e presbítero. Redigido na Terra Santa em abril de 1900, como que estabelece a transição com os retiros feitos em Nossa Senhora das Neves em outubro do mesmo ano e na primavera do ano seguinte, e merece, portanto, ser lido e estudado como introdução a esses retiros de ordenações.
Para melhor se entender o sentido da “Opção”, são oportunas umas explicações prévias.
Desde março de 1900 o irmão Charles mostra desejos de deixar o mosteiro das Clarissas de Nazaré, onde se considera “tratado como um príncipe”, conforme expressão sua. Sente-se favorecido demais, pelo fato das irmãs saberem quem ele é. E a prova disso é que não o querem deixar sair, quando acabam de recusar a admissão de uma pobre viúva como encarregada da roda.
Em fins de março, é informado de que se encontra à venda um terreno no Monte das Bem-aventuranças, e acalenta a esperança de esse lugar santo deixar de pertencer ao governo turco, seu proprietário, para passar à posse da Igreja, a fim de aí se construir um oratório com altar e sacrário.
Durante a semana santa começa a sentir uma viva atração pela vida monástica, e mais concretamente como eremita do Sagrado Coração de Jesus, vida de que já tinha esboçado um esquema no ano anterior. Ora, a Regra dessa vida previa a adoração eucarística permanente, e, portanto, a presença de um sacerdote para celebrar a eucaristia e vários eremitas para assegurarem a adoração ininterrupta.
Depois das festas pascais, exatamente em 25 de abril, na festa de São Marcos, “ocorreu algo tão importante — não como acontecimento, mas como ideia minha — que me sinto na obrigação de lho comunicar, escreve ele logo no dia seguinte ao seu diretor espiritual, o P. Huvelin. Acaba de ter a intuição “que de repente três coisas se unem, se misturam e se apresentam como quase necessárias”, essas três coisas são a vida eremítica em outro lugar que não o mosteiro das Clarissas, uma capela a erigir no Monte das Bem-aventuranças, e a ordenação sacerdotal para assegurar a presença eucarística na capela, que seria a dos Eremitas do Sagrado Coração. Sonha em ser o sacerdote-eremita necessário à vida eucarística desse lugar.
Ao entardecer do 25 de abril, após as Vésperas da festa litúrgica de Nossa Senhora do Bom Conselho, pede e obtém da Madre Abadessa autorização para continuar toda a noite diante do Santíssimo Sacramento, “e aí, tendo suplicado com o maior fervor o bom conselho da minha boa Mãe, a Santíssima Virgem, fiz uma longa opção”. São palavras suas, em carta dirigida em 26 de abril ao P. Huvelin, onde resume o essencial da tal “Opção”. Passara a noite inteira a orar, como em exercícios espirituais, e no texto dessa “Opção” aponta as linhas gerais da oração: sendo a festa de Nossa Senhora do Bom Conselho, a recitação do rosário era imprescindível.
Deve ter meditado demoradamente sobre cada um dos quinze mistérios, e essas quinze meditações, juntas às das quinze virtudes evangélicas que ele costumava contemplar em Jesus, formaram como que a moldura do seu discernimento e da sua decisão. No dia 26 de abril põe por escrito para seu uso, à lápis, um texto de quinze páginas publicado neste livro, e do qual fez ao seu diretor uma longa exposição.
Alguns elementos novos iriam sendo introduzidos em consonância com o desenrolar dos acontecimentos, as sugestões do Padre Huvelin a própria evolução dos desejos de Charles de Foucauld. Tudo isso contribuiu para modificar em um ponto ou em outro a “Opção”. No entanto, o texto fundamental de 26 de abril é um documento biográfico de capital importância que importa não separar, como anteriormente dissemos, de outras opções subsequentes, para devidamente se apreciar o conjunto dos dados: de tudo isso se poderá deduzir que o Monte das Bem-aventuranças e a Terra Santa anunciam perspectivas remotas mais orientadas para a ação missionária, que o projeto de vida eremítica vai resultar na fraternidade dos Irmãozinhos do Sagrado Coração de Jesus, e que só a devoção eucarística continuará a ocupar o primeiro lugar, com o corolário da ordenação sacerdotal, celebrada a 9 de junho de 1901.
Para chegar à compreensão perfeita desta fase fulcral do itinerário humano e espiritual de Charles de Foucauld, será importante atender não só à referida carta de 16 de abril, mas a toda a correspondência trocada entre ele e o Padre Huvelin desde março de 1900 até junho de 1901, publicada no volume Père de Foucauld-Abbé Huvelin, Correspondence inédite, Desclée et Cie 1957, pág. 120-189.
Na biografia de Charles de Foucauld, escrita por René Bazin em 1921, o autor cita várias passagens da “Opção”, enquadrando-as neste comentário que nos servirá de conclusão:
“Aí se vislumbra a generosidade e a pureza de intenção desse anacoreta a viver na sua cabana de sarrafos, meditando o próximo futuro, preocupado apenas com o seu próprio abatimento e com a glória de Deus[...] Não eram senão essas as intenções do irmão Charles quando projetava comprar o Monte das Bem-aventuranças. Intenções de uma alma grande. Se mais tarde as veio a concretizar de outra maneira e noutras terras, nunca deixaram de ser as mesmas, sempre presentes em seu espírito. De resto, ele sempre foi na vida o que meditava ser sobre a montanha onde Nosso Senhor pregou as sete Bem-aventuranças que o mundo não conhecia”.[14]
Maurice Bouvier
Postulador da Causa de Beatificação de Charles de Foucauld
[2] Cette chère denúère place. Lettres à mes fréres de In Trappe, Cerf, 1991, pág. 168 e 171-172.
[4] Cf.
l’Esprit de Jésus, Nouvelle Cité, 1978, pág. 215-264.
[6] Cf.
Irmãozinho de Jesus, Nouvelle Cité 1977, nova edição 2003, pág. 169-308.
[10] Petit frère de Jésus, ob. cit., pág. 186.
[12] É possível identificar a letra de uma prima, da irmã, do P. Fluvelin.
[13] De Gigord 1923, pág. 123-169.
[14] René Bazin,
Charles de Foucauld explorateur du Maroc, eremite au Sahara, nouvelle édition, Nouvelle Cité 2003, pág. 196 e 198 (Plon 1921, pág. 174.176).