Apresentação
Depois da publicação da tradução brasileira da
Correspondência familiar dos pais de Santa Teresa do Menino Jesus, cresceu entre os católicos brasileiros o desejo de conhecer também a figura — tão simpática quanto discreta — de Leônia, a “filha difícil” de Luís e Zélia Martin, que, tendo superado as próprias limitações, conseguiu realizar seu desejo de ser “uma boa religiosa” no mosteiro da Visitação de Caen (França).
A abertura do processo de beatificação de Irmã Francisca Teresa, em 2015, e a proximidade dos 80 anos de sua páscoa (17 de junho de 1941) despertaram entre os incontáveis devotos dos membros já canonizados da família Martin o desejo de conhecer mais profundamente a irmã visitandina da “maior santa dos tempos modernos”. Insistentes solicitações nesse sentido nos motivaram a proceder ao trabalho — árduo e, ao mesmo tempo, espiritualmente enriquecedor — de tradução do epistolário da “pobre Leônia”.
O material que o leitor tem em mãos foi tirado integralmente do
site dos
Archives du Carmel de Lisieux (
http://www.archives-carmel-lisieux.fr/carmel/) e por meio dele é possível penetrar na alma de Leônia: alma pacificada pela descoberta do Amor Misericordioso de Deus e reconciliada com suas próprias limitações por meio da fidelidade ao “pequeno caminho”, feito de confiança e amor, que lhe foi apresentado por sua santa irmã carmelita.
É esse duplo movimento, que impele a “bondosa Leônia” em direção às alturas do conhecimento/experiência do Deus-Amor e às profundezas do conhecimento de si, que faz dela a encarnação viva da mensagem de Santa Teresa do Menino Jesus e o primeiro fruto maduro de santidade da “pequena via”.
Que a leitura destas páginas suscite no leitor o desejo de deixar-se conduzir pela “violeta de Caen” a uma experiência profunda do amor do Deus revelado por Jesus Cristo, que não pede de nós o heroísmo das grandes obras, mas tão somente a ousadia de nos deixar amar por Ele.
O tradutor
Prefácio
Não pretendo fazer um longo prefácio às cartas de Leônia Martin, irmã de Santa Teresa do Menino Jesus, que também está a caminho para ser um dia — se Deus quiser — proclamada santa. Assim, teremos na família Martin quatro santos: os pais Luís e Zélia; a carmelita Teresa do Menino Jesus, luz para milhões de pessoas que encontram na História de uma alma força e coragem para caminhar na esperança, sem nunca desanimar; e Leônia, visitandina, que teve uma vida agitada e difícil pelo seu caráter, mas que sempre fixou seu olhar em Cristo Jesus e foi, à sua maneira, fiel discípula da infância espiritual. Há quem tenha dito que todas as irmãs Martin deveriam ser proclamadas santas; seria um exagero, pois a santidade não se recebe por herança familiar, mas se conquista com um sério trabalho pessoal de superação de si mesmo e de vivência da graça de Deus.
Leônia Martin teve una longa vida. Nasceu em 3 de junho de 1863 e morreu em 16 de junho de 1941: 78 anos de uma vida de sofrimentos, alegrias e lutas para vencer seu caráter instável e seu humor melancólico e triste, que com facilidade se fechava em si mesma. Passou na história da família Martin como a “pobre Leônia”, por causa do seu caráter, por sua agressividade infantil. Foi sempre definida como uma pessoa rebelde, insubmissa às normas do colégio e da vida. Os pais — Zélia e Luís — sempre tiveram um amor especial pela “pobre Leônia”, uma preocupação por seu futuro, mas não encontraram o caminho do seu coração. Teve a sorte de conhecer a tia, que era visitandina, e por isso encontrou um lugar no internato; tentou ingressar na vida religiosa várias vezes, mas depois de pouco de tempo voltava à família. Será ela que guiará o enterro de Teresa do Menino Jesus, já que o tio Isidoro se encontrava doente e as outras irmãs já se encontravam na clausura do Carmelo de Lisieux.
Um milagre de Santa Teresinha
Certo dia, Irmã Teresa do Menino Jesus, num diálogo com Irmã Maria do Sagrado Coração, que era irmã da mesma Leônia, disse: “Depois da minha morte, farei Leônia entrar nas visiandinas e pereseverar”. Por isso, devemos considerar a sua perseverança nas visitandinas como um autêntico milagre de Santa Teresa do Menino Jesus. Entre as duas sempre houve um relacionamento sincero, marcado por amor e respeito, e Teresa sempre animou Leônia a não desanimar, a lutar para vencer seus defeitos e a ter a certeza do amor de Deus e a confiar em sua misericórdia. A leitura das 342 cartas que Leônia escreveu nos permite entrar no santuário da sua alma e nos toma continuamente pela mão para fazer conhecer seu amor por Teresa do Menino Jesus, sua irmã santa, grande, amada por todos. Há entre as duas uma aliança que nos deixa maravilhados: uma aliança aqui na terra e, especialmente, uma aliança depois da morte de Teresa, naquele dia 30 setembro de 1897. Era só ela — Leônia — que poderia acompanhar silenciosamente o corpo de sua irmã do Carmelo até ao pequeno cemitério de Lisieux.
Podemos dizer, sem medo de errar — mas pode ser que algum dos meus leitores não concorde comigo —, que Leônia é a mais fiel discípula da pequena via recordada pela vida e pelos escritos de Teresa do Menino Jesus. Eu penso que quando Teresa escreve, não raramente deve ter diante de si a figura da pobre e pequena Leônia, que é considerada débil na vida humana, mas muito amada por Deus.
Na última carta que Leônia escreve a Paulina no dia 6 de junho de 1941, com delicadeza a chama — como normalmente faz — “minha pequna mamãe amada”, agradece por tudo, especialmente pela delicadeza que as irmãs do Carmelo têm por ela. Entre as quatro irmãs Martin, todas religiosas, há uma amizade surpreendente, uma aliança para estimular-se reciprocamente no caminho da santidade.
Normalemnte se acha — e, de certa maneira, é verdade — que a maior propagadora da santidade de Santa Teresa do Menino Jesus foi a Madre Inês, que esteve ao lado da santa especialmente nos últimos meses de vida, na enfermaria do mosterio, que cuidou com amor e com insistência “carmelitana” da publicação da História de uma alma. Mas devemos também reconhecer que Leônia, do seu mosteiro visitandino, não o fez com menos amor e entusiasmo.
É difícil encontrar uma só carta que não tenha uma referência explícita ou implícita à sua santa irmã Teresa do Menino Jesus. A pequena via é uma doutrina que, como um rio subterrâneo e silencioso, fecunda toda a sua alma, às vezes árida, perturbada e, nos últimos tempos de sua vida, provada pela doença que ela aceita com amor e abandono às mãos de Deus.
Nas visitandinas, Leônia percorreu um caminho difícil, mas sentiu-se muito amada por sua humildade, sua oração e sua “santa rebeldia”, que lentamente se vai confirmando numa aceitação amorosa da vontade de Deus. Ela mesma diz: “Deus me persegue com sua misericórdia”. Ela mesma é uma vítima do Amor Misericordioso de Deus. É Santa Teresinha que guia a sua vida e lhe concede paz e tranquilidade nos momentos de trevas que atravessa.
A espiritualidade de Leônia
Qual é a espiritualidade de Leônia Martin que podemos sublinhar na leitura desta rica correspondência que as Edições Carmelitanas do Brasil e a Cultor de Livros estão publicando? Qual é a importância de dá-la a conhecer no meio do povo de Deus? E que mensagem ela pode dar às famílias e às pessoas que, como ela, se reconhecem frágeis?
Mesmo que ainda existam autores que não conhecem bem a famíllia Martin, especialmente os pais Luís e Zélia, que dizem que Leônia foi abandonada por ser menos inteligente, rebelde e um pouco incapacitada. Pelas cartas, podemos comprovar que não foi assim; aliás, os pais tiveram sempre uma grande e sadia preocupação com ela e as quatro irmãs carmelitas, especialmente Teresa, dedicaram uma atenção especial a ela. O amor dos santos não exclui, mas inclui, e podemos dizer que, mais as pessoas são frágeis, incostantes e mutáveis de humor, mais são amadas. Para Deus, somos todos capazes, ninguém é excluído.
Em sua fragilidade humana, Leônia sempre buscou a Deus com intensidade. E Deus lentamente a curou. A frágil e instável Leônia será uma monja visitandina cuja única preocupação era o amor a Deus e ao próximo. Quando assumiu como motivação na vida o fazer conhecer e imitar sua irmã Teresinha, de rebelde e dócil que era, tornou-se atenta e serviçal em tudo. A experiência de Deus não depende da saúde física, nem mesmo — eu diria — da saúde mental, mas da abertura à graça de deus e da doclidade à ação de seu amor msiricordioso.
As cartas nos dão a fotografia interior de Leônia, que se sente amada e ama as três irmãs no Carmelo, faz-nos ouvir a voz delas, que do Carmelo chega ao mundo; nelas vemos a preocupacão de Leônia em fazer conhecer Santa Teresa do Menino Jesus, seu olhar vigilante para que ninguém se aproveite da santidade de sua irmã e deturpe a sua missão.
Lendo as cartas de Irmã Francisca Teresa, há uma frase que é bastante recorrente: “Deus me persegue com sua misericórdia”. Esse é um tema que, com o Papa Francisco, se tornou atual e necessário em um mundo que caminha para o egocentrismo, que desequilibra os nossos relacionamentos humanos e a nossa relação com Deus. Ele nos ama e nos ama, não como deveríamos ser, mas como somos, com nossos defeitos e feridas. Somos os melhores psicólogo de nós mesmos quando, confiando em Deus, superamos nossas limitações e podemos alcançar a santidade.
No dia 10 de maio de 1925 — isto é, quinze dias antes que Teresa fosse canonizada —, Irmã Francisca Teresa escreve uma carta às três irmãs do Carmelo:
“Irmãzinhas queridas,
Como nossos corações estão batendo em uníssono e exultando de alegria e gratidão por nosso Deus de amor, que fez de nossa Teresinha uma obra-prima de graça e humildade; em uma palavra: uma grande santa. Como Ele é bom por ter feito nascer em nossa casa essa flor do Paraíso! Mas nossos queridos pais eram dignos de possuí-la.
Diante desse triunfo, dessa glória suprema, brota naturalmente de nossos corações este canto: “Minha alma glorifica o Senhor e meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador”.
Para falar a verdade, a linguagem humana é impotente para comunicar o que se passa na parte superior da alma. Então, é somente o silêncio que convém, como aquele que reina entre os bem-aventurados no Céu”.
Essa carta constitui uma nova página na vida de Leônia, que de agora em diante se sente como que impulsionada e enviada por Teresa para anunciar a todos a misericórdia de Deus e o pequeno caminho da infância espiritual.
Quero terminar com uma pequena oração que Leônia dirige à sua irmã Santa Teresa, oração que encontramos nos propósitos de retiro do mês de novembro de 1924:
“Quero a qualquer preço mostrar-me doce, humilde, afável como tu, minha santa querida, a ponto que as Irmãs possam dizer: “Não vamos rir hoje, porque minha Irmã Teresa do Menino Jesus não está aqui”, de tal modo eras para elas o raio de sol que dilatava todos os corações.Conto totalmente contigo para ajudar-me a ser boa, amável, condescendente com todas as nossas queridas Irmãs. Sejam elas simpáticas comigo ou não, dá no mesmo, porque nelas só quero ver Jesus, ao qual unicamente desejo agradar”.
Essa oração é bela, profunda e manifesta como Teresa é para Leônia mestra, modelo e intercessora.
Conclusão
As cartas de Irmã Francisca Teresa — que, como dissemos — está caminhando, se for vontade de Deus e da Igreja, para ser um dia colocado diante dos nossos olhos como modelo no caminho da vida de todos os dias, são necessárias não só para conhecê-la melhor, mas eu diria que para conhecer melhor Santa Teresa do Menino Jesus. Mais do que as outras irmãs Martin, Leônia compreendeu a alegria do último lugar, o valor da humildade e que, quando nossos defeitos nos pesam e querem impedir-nos de avançar na santidade, podemos dispor de uma estrada maravilhosa: a estrada da infância espiritual e do abandono em Deus.
As Edições Carmelitanas do Sudeste do Brasil tiveram a belíssima ideia de oferecer pela primeira vez ao público brasileiro as cartas de Leônia, dando a saborear a espiritualidade da simplicidade e oferecendo a possibilidade de escutar muitas lembranças da infância e da casa paterna, luzes e sombras, momentos felizes e tristes. Mas ao final venceu a misericórdia de Deus.
Que este livro possa ajudar a conhecer melhor a vida da própria Santa Teresa do Menino e louvar ao Senhor por essa família santa: Luís Martin, Zélia Guérin, Teresa do Menino Jesus e — possamos dizer um dia — Santa Leônia. Somos santos juntos.
Quero agradecer ao Frei Gregório pela tradução das cartas e aos responsáveis pelas Edições Carmelitanas pelo entusiasmo e amor que têm em fazer conhecer a espiritualidade do Carmelo. Avante! Dando a conhecer o Carmelo, dá-se a conhecer a Deus, à Virgem Maria e e aos seus santos, que buscaram a Deus, não para si mesmos, mas para comunicá-lo.
Embora Leônia seja visitandina, seu coração está intimamente unido ao Carmelo e cabe ao Carmelo fazê-la conhecida.
“Se quiseres ser santa — escrevia minha amada irmãzinha —, isso será fácil para ti, basta ter como única finalidade agradar sempre a Jesus” (carta de Santa Teresinha à sua irmã Leônia). Que essas palavras nos orientem na vida e façamos tudo para agradar Jesus, dando-o a conhecer e amar, anunciando-o com a alegria do nosso testemunho.
Abuna Patrick (Frei Patrício Sciadini), ocd
Cairo (Egito), 17 de dezembro de 2020
Introdução
Leônia e sua família: a graça do último lugar[1]
Anne-Marie Pelletier
Evocar Leônia — na Visitação, Irmã Francisca Teresa —, a mais esquecida, a mais ignorada das irmãs Martin, não é um projeto sem riscos. Com efeito, como falar de Leônia sem ofendê-la, sem fazer violência à sua vontade feroz de permanecer escondida, desconhecida, já que falar dela, ainda que fosse para falar sobre seu escondimento, é ainda colocá-la em destaque? A única desculpa possível a essa iniciativa é que, procurando evocar sua lembrança, é finalmente a obra de Deus que vamos encontrar. Digamos, pois, claramente que é para celebrar as grandezas de Deus que deteremos aqui o nosso olhar sobre Leônia. Projeto que, dessa vez, Leônia não poderia recusar, ela que, em meio à agitação produzida pela instrução da Causa de sua irmã, declarava: “Que imensa glória para o bom Deus, está aí o mais belo negócio!” Bela ocasião, aliás, para recordar que toda a nossa admiração diante das vidas santas não tem sentido nem verdade se não nos encaminha à fonte da santidade, se não desemboca na ação de graças. Sem isso, não fazemos outra coisa que autocelebrar nossa humanidade na pessoa de alguns que teriam sido mais talentosos ou mais generosos que os outros. Mas a santidade não é caso de dons humanos, é poder de Deus na vida de homens e mulheres desejosos de acolhê-lo, que aceitam ser salvos para acolhê-lo. Depois de alguns lembretes biográficos, nós nos centraremos na maneira com que Leônia, primeira discípula de Santa Teresa de Lisieux, viveu a “pequena via” com uma radicalidade ligada às pobrezas concretas que constituíram o pano de fundo de sua vida. Em seguida, reencontraremos o conjunto da família Martin, no seio da qual — Leônia é um bom testemunho disso — a fé e a caridade construíram um jogo de solidariedades que dá a conhecer a obra de Deus.
Uma vida e suas provações
Quem é Leônia? Ela nasce em Alençon aos 3 de junho de 1863, terceira filha dos Martin após Maria (1860) e Paulina (1861). Depois dela nascerão uma filha, Helena, que morrerá aos cinco anos; dois meninos, José e João Batista, que morrerão em poucos meses; Celina, em 1869; Melânia Teresa, em 1870, que viverá dois meses; e, finalmente, Teresa, em 1873. Quando a senhora Martin morrer, em 1877, Leônia será a terceira de cinco filhas, situada em posição delicada entre as duas mais velhas — Maria e Paulina — e as duas mais novas — Celina e Teresa. As duas últimas serão “adotadas” pelas primeiras. Leônia permanecerá isolada. Pela correspondência de Zélia Martin, conhecemos muito bem a infância e adolescência de Leônia, tanto mais que a terceira filha Martin será, ao longo dos anos, a principal preocupação da mãe e, de forma mais geral, de seus pais [cf. 14/03/1875: “Essa menina é uma das minhas grandes preocupações”]. Desde o princípio, ela apresenta uma saúde frágil. Quando conta apenas alguns meses de idade, o senhor Martin faz uma peregrinação a Séez para implorar o restabelecimento da saúde da filha. Mas a situação continuará a ser precária: “A pequena Leônia não é forte” (05/01/1864); “A pequena Leônia não se desenvolve bem; parece não querer caminhar. É gordinha e miudinha, sem estar, todavia, doente; ela é fraca e pequenina”. As enfermidades se sucederão (rubéola acompanhada de convulsões, mencionada em uma carta de 16/05/1864; eczema purulento, para o qual Zélia pede ajuda ao irmão farmacêutico no dia 15/03/1865 e que atormentará Leônia por toda a vida; problema nos olhos desde os dois anos de idade). Desesperada, Zélia pedirá à sua irmã Maria Dositeia, visitandina em Mans, que reze uma novena na intenção da menina. O desenvolvimento físico e intelectual de Leônia será lento. Em outubro de 1869, quando a menina tem seis anos, Zélia escreve à cunhada: “Ela compreende as coisas muito lentamente, mas sempre foi doente e tenho esperança de que se desenvolverá mais tarde”.
Às dificuldades de saúde acrescenta-se um caráter que a família é concorde em classificar como instável e irritável. As dificuldades surgem em casa, onde aquela a quem chamam “a pobre Leônia” não é muito obediente, irrita-se, revolta-se; tornam-se evidentes quando Leônia é mandada, como suas irmãs, ao pensionato de Mans. Entra ali várias vezes e várias vezes é despedida: seu comportamento e a lentidão intelectual desencorajam as Irmãs. Irmã Maria Dositeia, sua tia, fala de “uma menina terrível”. Zélia confidencia seu desespero à cunhada: “Só tinha esperança em minha irmã para reformar essa menina... assim que se vê acompanhada, não se possui mais e se mostra de uma dissipação sem igual”. Em julho de 1872 escreve ao irmão: “Não posso analisar seu caráter; aliás, os mais sábios gastariam nisso o seu latim. Espero, contudo, que a boa semente germinará um dia”. Entretanto, uma carta de julho de 1873 relata: “Quando lhe perguntam o que ela será quando crescer, Leônia responde: ‘serei religiosa na Visitação, junto com minha tia’”. Leônia tem, então, 10 anos. Outras correspondências realçam “o bom coração de Leônia” (11/07/1875).
A mesma coisa em 07/09/1875: “Ela tem uma vontade de ferro: quando quer alguma coisa, triunfa de todos os obstáculos para atingir seus objetivos”. Zélia prossegue: “Não é muito devota, só reza ao bom Deus quando não tem outro jeito”. Mas acrescenta que Leônia lhe pede: “Mamãe, conta-me a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo”. No fundo, a rebelde não é tão má.
Mas a infância não é a única “difícil” para Leônia (de acordo com o primeiro capítulo do Padre Piat). O que vem depois também o é, a ponto de justificar o retorno dessa palavra na biografia de Marie Baudouin-Croix (Léonie Martin, une vie difficile). A história de Leônia são também os anos em que tenta entrar na vida religiosa que tanto deseja, mas na qual, porém, não consegue perseverar. Data de julho de 1886 a entrada no mosteiro das clarissas de Alençon, de onde sai em dezembro do mesmo ano. Em julho de 1887 entra na Visitação de Caen, de onde sai em janeiro de 1888. Em junho de 1893 estará de novo na Visitação de Caen: aí toma hábito em abril de 1894 e sai em janeiro de 1895. Ali entrará definitivamente apenas em 1899, muito depois da morte de Zélia, vencida pela enfermidade em 1877, e dois anos após a morte de Teresa.
Leônia, a filha decepcionante
Incontestavelmente, Leônia foi para a mãe uma filha difícil, desencorajadora, decepcionante. Esta o afirma na correspondência simples e cheia de sentimento que deixou, testemunho de uma mulher incrivelmente ativa do final do século XIX, para quem o dia a dia conjuga atividades profissionais desgastantes — a oficina de bordado —, as preocupações da vida familiar, as enfermidades de uns e outros e tantos lutos acumulados. Ao longo dos anos, Zélia continuará a estar atenta às filhas, junto às quais encontra força e alegria. Mas os problemas de Leônia, sempre em atraso, fazem-na sofrer, de um jeito ou de outro. Zélia não pode deixar de fazer comparações. Assim, por exemplo, Leônia começa a caminhar mais tarde que suas irmãs mais velhas (11/03/1864: “[...] a pequena Leônia tem nove meses completos e não consegue segurar-se sobre os joelhos, como Maria fazia aos três meses”). Ou ainda: “ela tem menos encantos” que a pequena Helena; é “a menos bela, que amo tanto quanto as outras, mas — continua Zélia — não me fará tanta honra”). Sua lentidão para aprender é tanto mais evidente quanto suas irmãs são brilhantes nos estudos (“Maria é uma excelente aluna; Paulina aprende tudo que quer e é muito aplicada”: 03/01/1872). A exemplo de sua irmã, Zélia nunca perderá a confiança em sua filha: “Mais a vejo difícil, mais persuadida fico de que o bom Deus não permitirá que ela permaneça assim. Rezarei tanto que Ele se deixará dobrar” — escreve em 01/06/1874. Ou ainda: “Quanto a Leônia, só o bom Deus pode mudá-la, e tenho a convicção de que Ele o fará” (17/12/1876).
Irmã Maria Dositeia declarara sua confiança em Leônia: “Minha irmã me disse... que tinha a convicção de que Leônia tornar-se-ia uma santa” — escreve Zélia à cunhada (24/07/1874). Mas Zélia morre aos 46 anos, quando Leônia tem apenas 14. Seu grande sofrimento foi deixar para trás essa filha que tinha ainda tanta necessidade dela. Evocando a cura que pede a Deus na oração, ela escreve em 25/06/1877: “Não lhe peço tirar completamente meu mal, mas somente deixar-me viver alguns anos para ter tempo de educar minhas filhas, sobretudo a pobre Leônia, que precisa tanto de mim e me causa tanta pena”. Na opinião dos familiares, a infância de Leônia é, portanto, uma infância difícil. Tal é a imagem que dela se guardará em família — ou seja, também entre os Guérin — da juventude de Leônia.
Uma vida de humilhações
Mas o que acontece se adotamos o ponto de vista de Leônia? Fica claro, em primeiro lugar, que ela “vestiu a camisa”, interiorizou fortemente a opinião que tinham dela, confirmando com suas atitudes o que se dizia ao seu redor, pois seus comportamentos de criança e adolescente foram incontestavelmente de natureza a torná-la insuportável: cenário, aliás, bem conhecido de nossa psicologia moderna. Sabemos o quanto as revoltas dos adolescentes muitas vezes são expressão de sofrimentos, contrapartidas de angústias. Conhecemos bem este círculo vicioso: a criança torna-se insuportável para chamar a atenção sobre si quando se sente abandonada; e sua agressividade suscita tão somente a exasperação daqueles a quem pede amor.
Com muita certeza, é preciso afirmar que a infância de Leônia foi profundamente triste e humilhante. Por diversas razões, das quais várias são simplesmente objetivas, independentes da vontade de quem quer que seja. Assim, ela viveu a morte de sua mãe quando tinha 14 anos. Dizem que encontrou-se então, por força das circunstâncias, isolada entre duas irmãs mais velhas e duas irmãs mais novas. Quem visita os Buissonnets é surpreendido pela disposição dos quartos: o de Leônia é um estreito corredor espremido entre dois aposentos onde ficavam, de um lado, Maria e Paulina, e, do outro, Celina e Teresa. Imagem de um isolamento que não foi somente espacial. Antes da morte da mãe, tinha vivido o episódio da empregada Louise que, durante meses, subjugara-a e tiranizara-a às ocultas da senhora Martin. Vivera ainda seus fracassos no pensionato de Mans. Viveu também o olhar de comiseração, mais ou menos reprovador, que nunca deixaram de lançar sobre ela. A “pobre Leônia”: assim era chamada comumente. Tais palavras soam pesadas, mesmo que os que as digam não tenham intenção de desprezo. Mais tarde, serão os anos em que as irmãs e a prima Maria Guérin entram no Carmelo de Lisieux, enquanto ela guarda no coração o desejo de uma vida consagrada, sem ser capaz de nela perseverar. Medimos seguramente com dificuldade as humilhações vividas por Leônia nesse setor. Ela fracassa no sonho de entrar na vida religiosa no momento em que Teresa, Celina e Maria Guérin fazem profissão. Ela, que deixou sua irmã Maria espantada ao declarar que queria tornar-se “uma verdadeira religiosa” certo dia em que, aliás — relata Zélia — “fizera tudo do pior jeito possível”, confrontou-se duramente com seus limites e com o ceticismo dos que lhe eram próximos. Como essa menina frágil poderia adquirir assim a confiança em si mesma, que lhe teria permitido dominar suas atitudes de rebeldia? Zélia nos garante que ela tinha uma vontade decidida. Suas entradas e saídas — que não deixaram de ter relação com a dureza das observâncias em associação com seus problemas de saúde — só podiam fazê-la passar por uma pessoa inconstante.
Outra vez a vida humilhada de Leônia, mais tarde e até o fim. Não que suas Irmãs visitandinas tenham tido o propósito de humilhá-la. Leônia simplesmente era lenta, desastradamente meticulosa, arrumando de forma intempestiva tudo que lhe parecia estar fora do lugar no mosteiro. Nunca lhe serão confiadas outras tarefas senão aquelas de auxiliar. Algumas palavras que escaparam e chegaram até nós nos permitem pressentir seu sofrimento ao longo de uma vida humilhada mais pelas circunstâncias que pelo efeito da hostilidade ou de má vontade. Assim, ela dirá de sua primeira Comunhão: “esse dia não era o mais belo da minha vida, porque minha infância e minha primeira juventude passaram-se no sofrimento, nas provações mais pungentes”. A mesma coisa nos anos que passa em La Musse, junto aos Guérin, em meio a mundanidades que não suporta, enquanto suas irmãs estão no Carmelo. Assim fala de sua tristeza: “[...] sempre tive esse fundo de tristeza, que não posso superar completamente. Sentindo-me nesse momento onde Deus me quer, sofro e sofro muito, meu exílio me parece longo. Só Jesus sabe o preço”. Ou ainda estas palavras ao tio, no momento em que finalmente faz profissão: “Meu Deus, quanto sofri!” (13/06/1900). Confissão cheia de pudor, que deixa entrever abismos. Ainda mais tarde, confidenciará: “Sofri muito por minha inferioridade, senti vivamente o isolamento do coração, de tudo. Experimento sempre as mesmas dificuldades: aborrecimentos, desgostos, vicissitudes de toda sorte, mas pressinto que todas essas angústias são uma purificação e que Deus — felizmente — está realizando sua obra, e devo agradecer-Lhe por tudo”.
Durante toda a vida, Leônia estará às voltas com essas fraquezas, com as decepções que causa, com a falta de jeito dos outros em relação a ela. Uma das mais tocantes inépcias acontece certamente quando Dom Picaud, bispo de Bayeux e Lisieux, pronuncia a homilia por ocasião da bênção da basílica de Lisieux, em 1937. Depois de ter celebrado Teresa, recorda suas três irmãs carmelitas, mas simplesmente se esquece de Leônia, a visitandina que, no entanto, reencontrara em Caen. Como se ela não existisse. Ora, acontece que, para a ocasião, as Irmãs da Visitação tinham recebido um rádio emprestado. Leônia ouviu a homilia. É um fato pequeno, porém terrivelmente significativo. Não basta estar habituado ao último lugar, ter escolhido ficar ali... tratava-se, aqui, de não ter mais lugar algum. A única reação de Leônia, porém, foi expressa por estas palavras: “Madre Inês de Jesus ficará mais pesarosa que eu”.
Um testemunho precioso
Antes de avançar e ver como Leônia viveu sua condição desgraçada e humilhada na presença de Deus, é necessário fazer um comentário. Leônia foi uma filha decepcionante para os Martin — “fora do ninho”, como disse Paulina um dia. Entretanto, deve-se afirmar que ela não “estraga” o quadro familiar. Ao contrário, traz a ele algo de essencial, uma credibilidade que a família Martin — e até mesmo a santidade de Teresa — talvez não tivessem tão fortemente sem isso. Pois não é ilusório o perigo de enxergar os Martin como uma família admirável, unindo pessoas com talento para a vida cristã e que vivem em uma atmosfera um pouco rarefeita, de uma santidade que ignoraria as fraquezas dos cristãos comuns. Mas a vida cristã não é uma performance atlética! A verdadeira vida cristã é sempre um caso de pobreza ofertada a Deus e transfigurada por Ele! É, portanto, bom que reconheçamos nos Martin a experiência comum da vida familiar, que comporta sempre, de um modo ou de outro, a provação da decepção: o outro decepciona, talvez simplesmente porque ele é quem ele é, e não o que se sonha dele. A correspondência de Zélia nos mostra uma confissão espantosa a esse propósito. Em determinado momento, sua irmã Maria Dositeia está às portas da morte, Zélia lhe dá suas “recomendações para a Virgem Maria”. Narra ela à sua cunhada: “Eis as recomendações para o Céu que encomendei à minha irmã. Disse-lhe: ‘Assim que estiver no paraíso, vá encontrar a Santíssima Virgem e diga-lhe: ‘minha boa Mãe, a senhora pregou uma peça em minha irmã, dando-lhe Leônia. Não era uma criança como aquela que ela queria; é preciso que a senhora repare a coisa” (08/01/1877).
“Não foi uma criança como aquela que ela tinha lhe pedido”... É bom que nessa família vejamos o amor de Deus e o enfrentamento de tais decepções, que fazem parte da vida. Também é bom que vejamos a santidade ganha às custas da fraqueza, da nossa fraqueza, não saídas de uma terra de exceção. Hans Urs von Balthasar sublinhou a falta de tato do Padre Pichon, confessor de Teresa, ao garantir, antes de sua entrada no Carmelo, que ela “jamais cometera pecado mortal”, acreditando que essas palavras fizeram Teresa tangenciar perigosas ilusões. Do mesmo modo, como esquecer que o grande selo de credibilidade da experiência de Teresa é sua confrontação final com o desespero, quando conheceu a tentação do nada e do suicídio, quando partilhou em sua carne e em seu coração aquele que foi o combate espiritual de muitos de seus contemporâneos? Pode-se também pensar que a “pequena via” de Teresa encontra seu primeiro princípio de verificação precisamente em Leônia, sendo vivida pela irmã de Teresa, que está às voltas com as pobrezas mais concretas que acabamos de evocar, com a pobreza fundamental que, de maneira pudica e tanto mais comovente, Leônia indicava ao escrever: “Ó meu Deus, em minha vida pusestes pouco daquilo que brilha”.
A “pequena via” à prova das fraquezas de Leônia
Escapar da armadilha da inveja
Precisamos atentar para o fato de que a história de Leônia é a de alguém que fracassa onde os outros conseguem ter sucesso, inclusive na vida espiritual. Existe, com efeito, uma espécie de desigualdade fundamental entre Leônia e suas irmãs, tanto mais sensível quanto estas são moças vivas, talentosas, precoces (Teresa, por exemplo, com a idade de 20 anos é associada à formação das noviças em seu mosteiro). Ora, sabemos por experiência que há, potencialmente, nesse gênero de disparidade, de desigualdade, uma fonte de violência que pode envenenar uma vida familiar. Como leitores da Bíblia, sabemos que a rivalidade entre irmãos é descrita como uma das primeiras consequências do pecado original. Lembremos a história do assassinato de Abel por Caim no capítulo 4 do Gênesis. Relato estranho, lacônico. É porque, ao lê-lo, geralmente nos esforçamos por suprir os silêncios do relato, acrescentando alguns elementos que tornem menos enigmático o drama aí representado. Longe desses subterfúgios, E. Daniélou afirmava, ao contrário: “Abel não é eleito porque é justo. Ele é justo porque é eleito. Eis o mistério da graça. A eleição de Abel não significa a reprovação de Caim... desde o princípio, o espírito igualitário é o grande obstáculo à entrada do amor liberal no mundo” (in: Les saints païens de l’Ancien Testament, Seuil, 1955).
Fica claro que, quando o homem pecador depara-se com a realidade da desigualdade dos dons — a Bíblia o adverte —, sente brotar em seu coração, irresistivelmente, o ressentimento, o ódio que é, como nos diz dramaticamente o texto, o germe do homicídio. Ora, é preciso ousar dizer, havia tudo na vida de Leônia — “patinho feio” em relação às irmãs talentosas, como se lê em algum lugar — para fazer dela uma revoltada, uma menina invejosa, tristemente resignada ou fechada no ressentimento. E, no entanto, Leônia não é isso. Contra toda expectativa, ela não é isso. Jamais encontramos qualquer sinal de inveja em sua correspondência, inclusive em suas cartas dos anos 1888-1893, em que escreve a Teresa, que está no Carmelo enquanto ela deixa a Visitação pela segunda vez. Há, certamente, um grande sinal do poder de Deus em ação na família Martin. Deus está presente, impedindo que as feridas infeccionem e se tornem mortais. Ele cura as feridas nos corações dessa família. Para dizer as coisas de forma positiva e tomando de empréstimo uma expressão de Teresa, essa cura é inseparável — no caso de Leônia — da prática da “pequena via”. Deus tratou as feridas de Leônia, engajando-a na via da humildade e do amor. Ele forjou nela o sentido e o gosto dessa “pequena via”. Ele fez da vida de Leônia a ilustração radical dessa “pequena via”.
De modo diferente de Teresa
Antes de ver Leônia engajada nesse caminho, uma primeira observação para sublinhar a diferença que separa, no ponto de partida, a experiência de Teresa daquela de Leônia. Por um lado, lemos Teresa que escreve a Madre Maria de Gonzaga: “[...] o Todo-poderoso fez grandes coisas na alma da filha de sua divina Mãe, e a maior delas foi ter-lhe mostrado sua pequenez, sua impotência” (Ms C, 4rº). Pois — não esqueçamos — Teresa teve que lutar contra a pressão de uma admiração que louvava sempre mais fortemente suas virtudes (cf. “Eu lhe dizia que ela devia ter lutado muito para atingir o grau de perfeição em que a víamos. Ela me respondeu, com um acento indefinível: ‘Oh, não é isso’” [Últimos Colóquios, 03/08/1897].
Por outro lado, vemos Leônia que, logo de cara, deparou-se com a evidência de sua miséria. Ela recebeu em sua história pessoal — de maneira psicologicamente bastante perigosa, aliás — o conhecimento de sua pequenez, de seu “nada”, como ela diz. E isso do modo mais concreto, com a dupla convicção de não ter nenhum atrativo físico e um temperamento intratável: “[...] a pobre pequenina sente-se inferior a vós, sob todos os aspectos” — escrevia Zélia a uma de suas filhas. Leônia viveu uma consciência desalentadora de sua pobreza, a ponto de carregar uma imagem desvalorizada de si mesma até o fim da vida, justificando as admoestações de suas irmãs, repreendendo-a em seus últimos anos para recordar-lhe que ela não era “o burrinho de Jesus”, mas “sua esposa querida”; ou para exortar, como Paulina: “Torna-te uma santa, mas não uma santa temerosa, ordeno-te. Vai a Jesus pela confiança e o amor, não chores por imperfeições que terás por toda a vida, isso não serve para nada, é tempo perdido”.
Ora, a desvalorização de si não é pobreza evangélica. Estas palavras do Diário de um pároco de aldeia, de Bernanos, o recordam: “É mais fácil que creiamos ter que nos odiar. Mas se todo orgulho estivesse morto em nós, a graça das graças seria amar humildemente a si mesmo, como a qualquer um dos membros sofredores de Jesus Cristo”. Foi, assim, necessário que Leônia escapasse à armadilha psicológica dessa autodesvalorização, que não se deixasse esmagar pela imagem negativa ou isolar-se em uma desesperada preocupação consigo mesma. Foi necessário que ela escapasse também da tentação de limitar suas forças para adquirir as virtudes que lhe escapavam, como planejou em seus inícios, no momento de sua tomada de hábito, quando, ao evocar suas resistências e teimosias em uma carta a Celina, acrescentava: “Terminarei por render-me, espero”. Foi necessário, finalmente, que ela deixasse converter nela sua miséria, para que emergisse e se firmasse a pobreza, que é a verdade espiritual do ser que sabe que sua força só pode ser a força de Deus (“Sem mim, nada podeis fazer”: Jo 15,5) e que consente receber de Deus o que lhe é pedido. A história de Leônia é a passagem do “desprezo ao esquecimento de si”, como diz o Padre Piat.
Graças à “pequena via”
A alavanca dessa conversão foi certamente seu precoce e tenaz desejo de santidade. Desde os anos em que se mostrava uma menina — como dizem — insuportável, Leônia declarou seu desejo de santidade. Tem dez anos quando declara que quer ser visitandina como sua tia. Aos quatorze, anuncia peremptoriamente a Maria que quer ser “uma verdadeira religiosa” (carta de Zélia, 21/01/1877).
Desde cedo quis tornar-se, não simplesmente visitandina, mas uma “santa visitandina”. Desde sua primeira estadia na Visitação, escrevendo a Teresa no verão de 1887, Leônia lhe diz: “Quero confiar-te um dos maiores desejos de minha alma, que é a íntima união com Jesus; pois quem tem Jesus tem tudo, é o tesouro dos tesouros”.
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[1] Conferência ministrada em 30/09/1999 em
Colloque de Lisieux: Thérèse et sa famille, Thérèse et la famille d’aujourd’hui. Fonte : http://www.archives-carmel-lisieux.fr/carmel/index.php/intro-2. Tradução Frei José Gregório Lopes Cavalcante Júnior, ocd. Publicado em
Mensageiro de Santa Teresinha. Ano 91: julho/agosto/setembro — 2015.