Introdução
A inveja não é um tema popular, o que torna desagradável fazer referência a ela. Além disso, as pessoas têm pouca consciência da inveja, o que é paradoxal, porque é muito frequente a sua presença na vida pessoal, familiar e social, e seus efeitos são perniciosos. A que se deve esta falta de consciência? Provavelmente a não querer perceber – consciente ou inconscientemente – de alguma coisa problemática e difícil de aceitar.
Às vezes, a inveja se confunde com o egoísmo ou com os ciúmes, mas na maioria dos casos talvez não se pense nela porque ninguém deseja perceber-se como invejoso. Também não se pensa na maneira de resolver esta presença nociva em sua vida, o que equivale à atitude do avestruz que, ao perceber o perigo, enfia a cabeça no chão para não o enfrentar... e com isso, evidentemente, não o resolve. Para solucionar o problema da inveja, são requeridas várias condições:
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entender em que ela consiste;
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aceitar que se sofre dela;
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descobrir os antídotos apropriados;
Cabe também notar que, mesmo tendo sido escritos muitos comentários sobre a inveja ao longo dos tempos – quase sempre a propósito de outros temas com ela relacionados –, existem, por outro lado, poucos tratados específicos sobre este tema1 que realizem uma análise completa para compreender em profundidade a sua natureza e as soluções para superá-la.
O presente ensaio pretende atingir os seguintes objetivos:
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descobrir a frequência com que a inveja aparece na vida das pessoas, bem como seus efeitos maléficos (tanto para o invejoso quanto para o invejado);
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distinguir o que é a inveja e em que consiste para poder entendê-la;
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aprofundar seu estudo, analisando suas causas (que explicarão por que existem certas pessoas especialmente propensas à inveja);
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descrever as filhas da inveja, isto é, efeitos e consequências dela derivados;
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refinar ainda mais a análise, considerando qual é o objeto da inveja, ou seja, o que é propriamente aquilo que se inveja;
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destacar quais costumam ser os detonadores que despertam este frequente problema, agravado no atual mundo competitivo;
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ilustrar, de modo gráfico, tudo que foi assinalado anteriormente com um caso prático e paradigmático de inveja: a história do rei Saul diante da presença de Davi no reino;
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nos capítulos anteriores, a análise ter-se-á centrado em quem sofre de inveja – o invejoso –. Posteriormente, será necessário incluir um espaço dedicado ao invejado, isto é, a quem provoca a inveja;
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e, finalmente, concluir-se-á com um tema positivo: a emulação, que alguns costumam, equivocadamente, chamar de “a boa inveja”.
Tão importante quanto aprofundar o problema da inveja, será apresentar as soluções para eliminá-la ou superá-la quando ela se manifestar. Também se inclui este objetivo fundamental, já que, ao longo das páginas e ao desenvolver as diferentes análises, irão aparecendo essas soluções, ao modo de sugestões – simples e práticas – para que qualquer pessoa possa aproveitá-las.
Apesar da negatividade tão grande que a inveja encerra, o enfoque do presente ensaio é propositivo: os leitores contarão com uma ferramenta que lhes permita afastar-se da inveja para conquistar a felicidade.
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1. Um deles é a obra de FERNÁNDEZ DE LA MORA, Gonzalo, La envidia igualitaria, Madri; Áltera, 2011, da qual foram extraídas várias das citações que aparecem no presente texto, e a quem agradecemos por sua valiosa pesquisa.