Prefácio
O Bem-aventurado Pedro Julião Eymard nasceu em La Mure d’Isère, pequena cidade da diocese de Grenoble, a 4 de fevereiro de 1811. Ordenado sacerdote em 20 de julho de 1834, é nomeado coadjutor em Chatte em 17 de outubro do ano seguinte, depois pároco de Monteynard, em 2 de julho de 1837. Entra para os Maristas, em 20 de agosto de 1839; com eles viveu por dezessete anos. Morre em 5 de agosto de 1868, depois de ter fundado, em 1856, a Congregação dos Padres do Santíssimo Sacramento e, em 1858, a das Servas do Santíssimo Sacramento. Foi beatificado por Pio XI em 12 de julho de 1925, e canonizado em 9 de dezembro de 1962 por São João XXIII.
O mais belo e mais completo elogio que se possa fazer do Padre Eymard é chamá-lo o Padre do Santíssimo Sacramento.
A seu respeito, disse Pio XI: “Pertence ao número dos santos providencialmente enviados por Deus e admiravelmente adaptados às necessidades dos tempos em que viveram. Sem hesitação alguma, podemos afirmar que o servo de Deus, Pedro Julião Eymard, apareceu oportunamente para promover cada vez mais o culto da Santíssima Eucaristia, e pode, por conseguinte, ser reconhecido por todos como o apóstolo desse culto público”1.
O venerável Pio XII expandia-se no mesmo sentido: “Nos conselhos divinos, estava reservado aos tempos modernos, graças ao zelo ardente do Bem-aventurado Eymard, o maior arauto, o campeão de Cristo presente nos sagrados Tabernáculos, glorificar, por um culto solene e contínuo de adoração, com uma magnificência jamais vista nos séculos passados, o Verbo de Deus feito homem, real e substancialmente presente no Sacramento de Seu amor”2.
Inspirando-se em sua doutrina e exemplo eucarísticos, um sacerdote não pode deixar de tender à santidade sacerdotal, segundo os meios preconizados pela Igreja de nosso tempo.
Primeira parte
Dignidade do sacerdote
I — A vocação sacerdotal
“Ninguém se apropria desta honra,
senão somente aquele que é chamado por Deus,
como Aarão.” (Hb 5,4).
O Sacerdócio católico é divino em sua origem: foi Deus feito homem quem o instituiu; em suas funções: é o poder de Deus em ação; em seus frutos: ele santifica, salva o mundo.
Quem ousaria então pretender a essa sublime dignidade? Quem se poderia julgar digno? Ninguém, mesmo se possuísse a pureza de um anjo, o amor de um serafim.
Entretanto, é necessário que haja sacerdotes, e sacerdotes escolhidos entre os homens.
Foi a Igreja que recebeu a missão de discernir e formar os chamados ao sacerdócio de Jesus Cristo.
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Entrar no sacerdócio sem vocação divina é uma temeridade sacrílega, é expor a própria salvação, é correr à condenação.
São de Santo Efrém essas palavras: “Se alguém tiver a ousadia de usurpar a dignidade do sacerdote, trará sobre si as trevas exteriores e o juízo sem misericórdia”3.
a) Há temeridade em querer impor-se a Deus. De fato, não se impõe a Deus ser o seu representante, seu ministro, o dispensador de seus dons.
Não dizia Nosso Senhor a seus Apóstolos: Não fostes vós que me escolhestes (Jo 15,16), e não diz São Paulo do próprio Jesus Cristo: Assim também Cristo não se atribuiu a si mesmo a glória de ser pontífice (Hb 5,5)?
Acaso se impuseram os Santos que, trêmulos, fugiam até para o deserto, a fim de subtrair-se a tais responsabilidades?
Que pensar, portanto, do candidato que procurasse forçar um chamamento fazendo entrar em jogo a influência das proteções?
Nesse caso, não pode haver proteção; há somente a vocação divina a examinar.
Os talentos não são um direito; o nascimento menos ainda; as qualidades naturais são apenas um elemento favorável.
Recorde-se o castigo dos partidários de Coré, tragados por terem desejado substituir-se ao sacerdócio de Moisés e de Aarão (Nm 26,10).
Recorde-se a punição de Saul, rejeitado por ter oferecido, sem autorização, um sacrifício a Jeová (1Rs 15,22-26).
b) É também expor-se à perdição eterna. Por quê? Porque, no testemunho dos Santos, a salvação depende da fidelidade à vocação4. Efetivamente, a vocação é o meio ordinário utilizado por Deus para dar-nos as graças que nos preparou, realizando assim os deveres conformes à Sua vontade sobre nós.
Mas tem direito a essas graças quem entra no sacerdócio sem vocação divina? Não. E se não as possui, como poderá cumprir os seus deveres, sustentar-se nas provações e perigos do sacerdócio? Como poderá ser um fiel dispensador na casa de Deus?
Que será ele? Um ladrão. Quem não entra pela porta — pela verdadeira vocação divina — mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador (Jo 10,1). É roubar, comenta São Cirilo de Alexandria, atribuir-se um cargo que não lhe é destinado pelo Altíssimo5.
Que se tornará ele? Um servidor infiel e pusilânime, um profanador, um traidor de Jesus Cristo, um carrasco das almas.
E depois, que consolação terá em suas penas e sacrifícios? Poderá ele dizer: Deus os quer? Como poderá, em seus trabalhos, persuadir-se de que são agradáveis a Deus, verificar que Deus os aceita?
Ah! mais vale ser o último no mundo com uma boa vocação, do que, sem vocação, ser sacerdote. Mais vale mendigar o pão, que levar sacrilegamente a coroa do sacerdócio.
Mas, ao contrário, quando se tem a garantia de ser verdadeiramente chamado, pode-se e deve-se entrar com uma santa humildade, acompanhada de confiança magnânima e piedosa alegria.
É a mais bela de todas as vocações; a que oferece mais meios de salvação, principalmente a que dá mais glória a Deus.