UMA PALAVRA DO AUTOR
Não costumamos nos preocupar com a celebração dos Sacramentos, e isso porque eles estão integrados a cada etapa da vida humana de forma muito clara. Ao nascermos, somos batizados. Atingindo a idade da razão, entramos para a catequese, confessamo-nos e recebemos a Primeira Eucaristia. Na juventude, somos crismados. Uns se casam, outros se ordenam. No fim de nossa vida, quando nos faltam as forças, recebemos a unção dos enfermos. A ordem parece tão natural que acabamos legando a preparação sacramental apenas para a Igreja e seus ministros: esperamos a instrução dos catequistas, a ordenação burocrática das secretárias e a celebração deles pelo sacerdote.
Essa situação parece carregar um paradoxo: ainda que os Sacramentos estejam integrados em todas as etapas da vida humana, não parece que nos importamos verdadeiramente com a seriedade de sua recepção.
Houve um momento em que percebi isso. Esse livro começou a ser escrito assim que o segundo volume da série foi lançado, entre os anos de 2015 e 2016. Na mesma época, conheci a minha esposa. Conforme o tempo foi passando e o relacionamento foi tomando vulto, era inevitável que falássemos de casamento. Como leigos, sabíamos que nossa vocação seria completada no altar do Matrimônio. Tornamo-nos noivos em 2016 e, logo no início de 2017, passamos a procurar os fornecedores para a celebração matrimonial, que teria lugar em meados do ano seguinte.
Como foi difícil!
Se os fornecedores para a recepção dos convidados foram mais simples de serem escolhidos, aqueles envolvidos diretamente com a celebração do Matrimônio tornou-se uma tarefa hercúlea. Sabíamos que queríamos o Sacramento do Matrimônio celebrado dentro da sacralidade do rito, conforme pede a Igreja, e que, sendo belo, não o fosse apenas pela questão estética, mas para auxiliar as pessoas a rezarem, por si e pelos noivos!
Selecionamos a igreja, a venerável Ordem Terceira do Carmo, uma das raríssimas igrejas de estilo Barroco Paulista ainda em pé na capital paulista. Em seguida, o sacerdote. Definimos que seria celebrado dentro da Santa Missa e, por conveniência, na Forma Extraordinária do Rito Romano. Contratamos, a muito custo, os músicos: um quarteto de corda que entendeu nossa proposta para a celebração. Selecionamos um repertório musical bastante clássico que incluía, por exemplo, a Ave Maria de Arcadelt e o Ave Verum de Mozart. Conseguimos um coral gregoriano que cantou a Missa X do Kyriale. Uma equipe de acólitos que ensaiou a celebração. Preparamos os livrinhos para as pessoas acompanharem a celebração e distribuímos véus para as mulheres. Nada deu de errado na celebração, ainda que tenhamos gastado muito tempo em sua preparação.
Na recepção, uma prima que eu não via há alguns anos me abraçou e disse: “Nunca fui a um casamento tão lindo quanto o seu”. Nesse momento, todo o esforço e tempo empregados para a preparação deste Sacramento fez sentido para nós.
É mais que uma tristeza quando vemos nossas igrejas transformadas em um espaço público para a celebração de quase um ato civil. De uma convenção social. Quantas são as crianças batizadas apenas por tradição familiar? Quantos casamentos se realizam para demonstrar certa ostentação dos noivos? Quantas vezes o adolescente nunca mais aparece na igreja depois de crismado?
Se Nosso Senhor quis que os sacramentos estivessem integrados às nossas vidas, também desejou que os levemos a sério. Sua preparação, sua recepção e seus efeitos devem ressoar em nós. Nosso Senhor deixou-nos um tesouro incalculável, e é nosso dever zelar para que todos os tenham como tal. Não como uma convenção social, mas como o que são: sinais sensíveis de uma realidade invisível, queridos por Nosso Senhor para nossa santificação!
Hoje, tendo iniciado este livro solteiro, termino-o com minha primeira filha, Maria Teresa, no colo, e a meu lado minha esposa, Jéssica. O laço adquirido no Sacramento do Matrimônio deu-nos um fruto que só nos traz alegrias e que nos leva a nos esforçarmos a sermos espelhos da Sagrada Família de Nazaré. Que Maria Santíssima, nossa Suserana, receba esse livro em suas mãos, e que ele, em sua miséria, possa auxiliar todos que o lerem e colocarem em prática a se prepararem ou receberem os Sacramentos de forma mais frutífera.
09 de julho de 2019
Memória de Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus
Michel Pagiossi Silva
Cavaleiro e preceptor da
Milícia de Santa Maria no Brasil