Apresentação
Depois de ter tratado, no primeiro volume, sobre o “cerimonial para a Santa Missa e a Liturgia das Horas”, Michel Pagiossi Silva lança agora o segundo volume da série “Entrarei no Altar de Deus”, no qual trata do Ano Litúrgico em seus diversos aspectos. Nele, o autor mostra a divisão dos tempos e festas litúrgicos, o cerimonial para cada ocasião e explicações sobre o sentido espiritual, a origem, o desenvolvimento e a evolução de cada rito. O conhecimento de tais dados contribui muito para a compreensão do “espírito da liturgia”.
A exemplo do 1º volume, também este pretende ser um “manual”, um “passo a passo” para ajudar na pastoral litúrgica. Como disse o autor no 1º volume, a intenção foi “juntar o máximo de informações possíveis em um único lugar”, retiradas sempre de fontes oficiais e reunidas de forma orgânica e completa, de fácil consulta.
Para quem está acostumado a encontrar os textos litúrgicos já prontos nos folhetos, sem que precisemos pensar sobre o motivo pelo qual se escolhe determinada leitura e não outra, ou determinada oração, não outra, é interessante conhecer as orientações que norteiam a escolha dos textos, orações e até mesmo dos cânticos – que não são apenas um enfeite, mas parte integrante da liturgia –, e ver quantas opções existem para cada caso.
Dessa forma, a obra ressalta a beleza da ação litúrgica e defende a necessidade do respeito às normas e orientações da Igreja, uma vez que a liturgia não é “para o povo”, mas para Deus.
Uma palavra do autor
O homem contemporâneo vive, infelizmente, preso a uma estranha dinâmica temporal. Trabalha para ter lucro, exaspera-se, pensa apenas nas férias, e, quando elas chegam, são geralmente tão atrapalhadas e cheias de compromissos que acabam por não permitir um verdadeiro descanso. Por fim, vão-se embora e o que resta é trabalhar mais e aguardar as próximas oportunidades para não trabalhar. Trabalha-se para descansar e, nas folgas, não se consegue o descanso merecido.
Se o homem entendesse o tempo como dom de Deus, com toda certeza não agiria dessa maneira. Costuma-se dizer que a única coisa que, uma vez perdida, não pode ser reencontrada não é o dinheiro ou a fama, mas o tempo. Por isso, o homem deve cuidar bem do seu tempo, não enxergando o trabalho apenas como fonte de lucro (ou de aborrecimentos), mas como instrumento querido por Deus para que a pessoa se santifique. Afinal, para a imensa maioria da humanidade, a vocação acabará por se completar no exercício do trabalho bem acabado. Encarar o trabalho como uma espécie de fardo, a não ser por curtos e determinados períodos de tempo e ainda assim oferecendo-o bem terminado como sacrifício, não apenas retardará a santificação pessoal, mas acabará por desencaminhar o fiel do próprio caminho da virtude.
Um instrumento oferecido pela Igreja para a santificação dos fiéis é o Ano Litúrgico. Para muitos, porém, a correria diária não permite que se utilizem desse meio de santificação, e a espiritualidade litúrgica acaba por se resumir às cores dos paramentos que o sacerdote usa no domingo, ou a alguma eventual celebração não dominical. A Igreja nunca quis que o ano litúrgico fosse percebido ou vivido assim, e nem como uma mera repetição dos fatos da vida de Nosso Senhor, mas sempre como uma atualização dos mesmos na vida de cada fiel. E o que pode haver de mais reconfortante que caminhar com Nosso Senhor, desde sua Concepção até a sua gloriosa Ressurreição? Ouvir seu sermão no Monte e acompanhá-lo caminhando sobre as águas? Presenciar seus imensos milagres, como também as curas e as libertações? Ou, o que haverá de mais doloroso que estar com o Senhor na solidão do Getsêmani ou na farsa do Sinédrio? Ou, que coração não se há de enternecer ao ver Nossa Mãe, Maria Santíssima, amparada por São João e Santa Maria Madalena, tendo nos braços o Corpo Santíssimo, mas inerme e desfigurado, de Nosso Redentor descido da Cruz?
O Ano Litúrgico oferece a todos estas oportunidades. Assim, o segundo volume da série “Entrarei no Altar de Deus” tem por meta apresentar as celebrações ao longo do ano litúrgico, não apenas do ponto de vista cerimonial (ainda que esse seja o principal enfoque da obra), mas também histórico e espiritual. O Ano Litúrgico se apresentará como um caminho, oferecido pela Igreja em forma de sacramental, que, ao ser trilhado por cada fiel, ajuda-o a entender para onde ir e como ir. Este livro deseja ser um mapa para o ano litúrgico, de forma que a vivência de cada tempo não seja mera repetição, mas kairós, tempo fecundo da Graça Divina para todos aqueles que tiverem esta obra em mãos.
Que esse caminhar seja iluminado, de maneira especial, pela Santíssima Virgem Maria, Mãe de Nosso Senhor, que, antes de concebê-lo em seu puríssimo seio, já o havia concebido em seu coração. Ela é aquela que esteve em todos os momentos junto a Seu Filho. Aquela que não o abandonou na Cruz. Aquela que recebeu o Santíssimo Corpo do Filho Morto. Aquela que os apóstolos, depois de debandarem, procuraram e junto a quem aguardaram a ressurreição. Aquela que estava com eles em oração, esperando o Paráclito. Aquela que, sem pecado, foi assunta aos Céus de corpo e alma. Seja ela, em beleza, pureza e santidade, o modelo de nossas celebrações, nas quais nos esqueçamos de nós mesmos para deixar Nosso Senhor brilhar.
03 de julho de 2015
Festa de São Tomé apóstolo
Michel Pagiossi Silva
Cavaleiro e preceptor
da Militia Sanctae Mariae no Brasil