A santidade é para ti
Provavelmente estás habituado a considerar-te “um católico médio”, o que não tem nada de vergonhoso. Ser católico médio é ser um bom católico. Assistes à Missa todos os domingos, faça bom ou mau tempo, tenhas ou não dor de cabeça. Comungas todas as semanas. Confessas-te pelo menos todos os meses. Rezas todos os dias. Assistes às cerimônias religiosas da tua paróquia, às novenas e à outras atividades. Contribuis generosamente para a paróquia e para as coletas da diocese. Auxilias a construção de uma escola católica e continuas a ajudar a mantê-la. Lês livros de espiritualidade, jornais e revistas católicos, pelo menos ocasionalmente.
Em muitos países do mundo, mesmo nos chamados católicos, não serias considerado um católico médio; julgar-te-iam muito perto da santidade. E isto porque, quando falamos a respeito de médias, devemos perguntar: “Em que ponto começa essa classificação?”. Um jovem, que é precisamente um aluno médio numa escola para crianças bem dotadas, estaria muito acima do melhor aluno numa escola para crianças atrasadas. De igual modo, como católico médio, serias classificado muito acima da média nos países em que apenas 20% dos católicos assistem à Missa num dado domingo e até uma proporção menor assiste à Missa todas as semanas.
Não digo isto para te encorajar à complacência. Se fosses um católico complacente, não serias um católico médio. Uma das características que mais encorajam o católico médio é sentir-se espiritualmente insatisfeito. Sabe e admite intimamente que não é tão bom como devia ser e como podia ser. Infelizmente, adia muitas vezes o esforço de subir mais um degrau, mas, pelo menos, sente alguma vergonha por não ter atingido ainda esse degrau.
A verdade é que és um santo. Não um santo canonizado, claro, mas um santo na acepção original da palavra latina sanctus: aquele que está em união com Deus. É nesse sentido que S. Paulo se dirige a “todos os santos que estão em Éfeso” e a “todos os santos em Jesus Cristo que estão em Filipos”. És um santo, porque estás no estado de graça santificante. A tua alma participa da própria vida de Deus e é transformada pela tua união pessoal com a infinita santidade de Deus.
Devido a todas as tuas fraquezas humanas, deves tentar tenazmente preservar a vida de Deus na alma — aquele maravilhoso parentesco divino que te foi insuflado na alma quando te batizaram. Sabes que Jesus te fez seu irmão ou irmã (e filho de Deus) pelo sacrifício da Cruz. Mesmo contra o teu próprio interesse, sentes-te horrorizado ante a perfídia de dissipares a agonia de Cristo, se romperes o laço entre ti mesmo e Deus, um laço forjado a tal preço.
És demasiado inteligente para te sentires orgulhoso da tua santidade. Sabes muito bem que não é qualquer coisa que tivesses adquirido pelos teus próprios esforços. Não estás orgulhoso, mas eternamente grato. Sabes que, participando da vida de Deus, possuis um dom tal que, comparados com ele, todos os outros se tornam insignificantes. Boa saúde, bom emprego, bons amigos, grandes capacidades, dinheiro, sucesso: se tiveres algum destes atributos, tens um pequeno bônus; mas se não possuíres nenhum, ainda és superior, ainda és um gigante entre pigmeus, perante aqueles que não possuem a graça. Os demônios invejam-te com ardente rancor; os Anjos curvam-se quando passas.
E tu sentes-te seguro também. Sabes que poder algum, no Inferno ou na Terra, poderá destruir a tua íntima união com Deus, a não ser que tu mesmo prefiras rompê-la. Sabes que Deus, por motivos que não podes perceber, ama-te com amor possessivo. Quer-te com Ele no Céu e não te deixará escapar facilmente. Quase te asfixia com os seus cuidados. Segue persistentemente os teus passos com o seu amparo de todos os dias, procurando chamar-te a atenção para os pontos perigosos. Sabes que não se peca por acidente. Sabes que não podes pecar «porque não podias evitá-lo», já que a escolha livre e deliberada é inerente à verdadeira essência do pecado. Sabes que, enquanto te esforçares honestamente por comportar-te da melhor maneira, Deus há de amparar-te.
Não é de estranhar que tantas das tuas orações sejam orações de ação de graças. Em cada Missa e em cada Pai Nosso e em cada Ave-Maria, a tua gratidão é um renovado estribilho. Estás ciente de que, se passasses cada hora de vigília, desde o momento presente até ao Dia de Juízo, a dizer constantemente “Meu Deus, obrigado”, nem assim poderias pagar a tua dívida.
Sim, és um santo. É trágico que Deus tenha trabalhado tão arduamente em ti (e em mim), com tão pouco proveito; que nos tenha cuidado tão pacientemente, para fruto tão mesquinho. Talvez possamos fazer, agora, um novo esforço? Poderemos tentar, com um pouco mais de persistência, aprofundar e intensificar em nós a vida divina? É verdade, de fato, que já o temos decidido uma porção de vezes; mas acabamos por encontrar-nos de novo no ponto de partida. Pode ter acontecido que confiássemos demasiado em nossa própria força e em nosso próprio discernimento. É possível que precisemos rezar com um pouco de fervor e com menos restrições mentais: “Meu Deus, fazei com que eu seja o que desejas que seja; ajuda-me a ser o que devo ser; ajuda-me a ser um santo!”.