Trecho da Introdução: Palestrando no Facebook e no Google
No início de 2017, recebi uma visita de cinco senhores da cidade de São José, na Califórnia. Apesar de não nos conhecermos pessoalmente, eles já acompanhavam meu trabalho há algum tempo. Disseram-me que estavam todos envolvidos, de diferentes formas, na cultura do Vale do Silício, e que queriam encontrar uma maneira de me inserir nesse mundo altamente influente, talvez convidando-me, por exemplo, para dar palestras no Facebook e no Google. Eu concordei e nós nos cumprimentamos, mas devo admitir que não acreditei que o plano daria certo. Cerca de seis meses depois, para minha alegria e surpresa, um desses homens me ligou para avisar que um representante de um “grupo católico” do Facebook entraria em contato comigo em breve, para agendar uma palestra na sede da empresa em Menlo Park, Califórnia. O complexo do Facebook é um lugar fascinante: arquitetura vanguardista, áreas de trabalho abertas para os funcionários, uma cafeteria gigante que poderia competir com os restaurantes das principais universidades, bicicletas por toda parte, um jardim para meditar e passear no terraço de um dos principais prédios e, acima de tudo, pessoas jovens. Acho que não vi um único colaborador do Facebook que tivesse mais de trinta anos. Senti-me mais ou menos como Matusalém. Mas fui muito bem recebido pela entusiasmada multidão que assistiu à minha apresentação. A palestra também foi transmitida ao vivo pela internet para milhares de espectadores em todo o mundo, e, enquanto estou escrevendo este texto, o vídeo já alcançou quase 500 mil visualizações. O tópico sobre o qual eu falei foi “Como conduzir um debate sobre religião”. Decidi não abordar nenhum tema teológico específico de maneira apologética, preferi dar um passo atrás e considerar como poderíamos começar a abordar uma discussão sobre questões religiosas. Já faz tempo que eu apoio a alegação de Stanley Hauerwas de que uma das demandas mais prementes de nosso tempo violento e volátil é reaprender a discutir religião em público. Por uma experiência bastante extensa com o Facebook e outros sites de mídia social, sei que as pessoas gostam muito de se pronunciar sobre religião, mas pouquíssimas sabem entrar numa discussão sobre questões religiosas de maneira construtiva, racional e útil. Aproximadamente seis semanas depois da apresentação no Facebook, fui contatado, novamente através da generosa assistência dos meus amigos de São José, por um representante dos católicos que trabalham no Google. Eles propuseram o mesmo tipo de acordo e eu concordei satisfeito. Assim como a sede do Facebook, o campus do Google parece o tipo de lugar que os membros da geração millenium construiriam se você lhes desse uma quantidade infinita de dinheiro: vários espaços abertos, uma academia, cápsulas de soneca nas áreas de trabalho, salas de música, etc. Eu confesso que, enquanto explorava essas duas instalações, muitas vezes me peguei sorrindo, imaginando o que o meu austero pai, pertencente à Geração Grandiosa, teria feito com tudo isso. Então me lembrei de que estava visitando os locais de trabalho onde possivelmente aconteciam as operações de maior sucesso e com maior influência cultural no planeta. Sendo assim, se tirar uma soneca e andar de bicicleta ajudam, melhor para eles. Para a palestra no Google eu decidi abordar o assunto religião mais diretamente, usando como deixa a ideia, muito estimada por todos os usuários do Google, de “busca” (pesquisa). Chamei a palestra de “A religião e a abertura da mente”. A religião, argumentei, nasce da capacidade essencialmente ilimitada do ser humano de questionar, tanto intelectualmente quanto espiritualmente. Longe de fechar a mente — como tão frequentemente afirmam os seus críticos — a religião expande a mente e a impulsiona sempre mais para longe, em direção a um objetivo propriamente infinito. O livro que você está lendo é uma versão ligeiramente ampliada das palestras que dei no Facebook e no Google. O público-alvo não é tanto o fiel religioso convicto, mas principalmente os que estão de fora, os que estão buscando algo, os céticos. O tom que adotei nas duas palestras foi bastante elevado intelectualmente. Isso porque estou convencido de que essa religião trivializada, praticada nas divisões denominacionais nos últimos cinquenta anos, foi um desastre. Quando as críticas dos “novos ateus” surgiram quinze anos atrás, a maioria dos que acreditavam em Deus não tinham a menor ideia de como responder àquilo que, basicamente, não passava de argumentos já “manjados” e caricaturas grosseiras. Especialmente em nossa cultura cada vez mais secularizada, precisamos de uma apresentação inteligente da fé. Minha esperança é que esse pequeno livro possa chegar às mãos daqueles, especialmente os jovens, que se afastaram de Deus. Que ele seja um convite para um olhar mais profundo, e quem sabe, até mesmo um convite para voltar para casa.