Introdução
Primeira santa do Chile, Teresa dos Andes ainda é pouco conhecida do público francófono. Além da distância geográfica entre o Chile e a França, isso é explicado em parte pelo caráter extremamente reduzido da bibliografia sobre ela em língua francesa: não encontramos nada além da tradução de seus escritos (Diário e Cartas) e de uma biografia. Ademais, o belo filme sobre sua vida, gravado no Chile à época da beatificação, ainda não existe com dublagem ou legendas em francês. A presente obra quer ser uma contribuição para aprofundar a espiritualidade de Teresa dos Andes e torná-la mais conhecida. Não tem a ambição de ser uma síntese teológica do conjunto da espiritualidade da santa, mesmo que seja desejável que tal obra venha a ser publicada. Nosso objetivo é muito mais modesto: sem procurar de modo algum ser exaustivos, tentaremos apresentar os aspectos mais importantes da vida e da espiritualidade de Teresa dos Andes, para trazer à luz sua mensagem para hoje. Escritos inicialmente de maneira separada, os diferentes estudos da obra foram reunidos da maneira mais coerente possível.
O primeiro estudo trata da alegria. De certa maneira, o tema se impunha, devido à sua onipresença na vida e nos escritos de Teresa dos Andes. Esta aparece como uma testemunha contemporânea e eminente da alegria evangélica, especialmente para os jovens.
O segundo estudo, inicialmente publicado por ocasião do centenário de Elisabeth da Trindade (2006), explora a forte ligação espiritual que une Teresa dos Andes a Elisabeth, que é, sem dúvida, a santa da qual ela é mais próxima.
O terceiro estudo aprofunda o sentido e o alcance de uma experiência mística particularmente elevada de Teresa dos Andes em janeiro de 1919. A importância dessa graça aparece em plena luz quando a esclarecemos por meio da doutrina de São João da Cruz, o que é também ocasião de contemplar de perto o vínculo entre Juanita e o grande Doutor carmelitano.
Os dois estudos seguintes abordam duas dimensões essenciais da ligação de Teresa dos Andes com Cristo: em primeiro lugar, o mistério da Eucaristia (capítulo 4); em seguida, o do Sagrado Coração (capítulo 5). Com efeito, esses dois mistérios são absolutamente centrais na vida e na espiritualidade da santa. Esta foi realmente faminta da Eucaristia e atraída pela presença eucarística de Cristo. Ela viveu igualmente cada vez mais escondida no Sagrado Coração de Jesus, a ponto de fazer dele sua verdadeira morada espiritual.
O sexto estudo tenta reconstituir as etapas mais importantes da santificação de Teresa dos Andes como processo de transformação progressiva em Cristo.
Depois de Cristo, vem naturalmente o Espírito Santo. O sétimo estudo aborda, então, o lugar do Espírito Santo na vida de Teresa dos Andes. Nesse sentido, traz à luz a mudança importante que aconteceu em janeiro de 1919.
Era normal também ver o vínculo entre Teresa dos Andes e a Virgem Maria; é o objeto do oitavo estudo. Certamente, todo santo é intimamente unido a Maria, mas o é sempre de uma maneira intimamente pessoal. Em seu caráter único, essa união expressa algo da personalidade do santo em questão.
O estudo seguinte — sobre a humildade —, com um título um pouco provocador (mas a expressão vem da própria Teresa dos Andes!), aborda um assunto que, aparentemente, parece clássico (a humildade não foi vivida por todos os santos?), mas que apresenta um interesse particular no caso de Teresa dos Andes. Com efeito, ela teve uma lucidez quase inacreditável e extraordinariamente precoce sobre o perigo do orgulho e a importância da humildade na vida cristã. Valia, pois, a pena aprofundar esse tema nela.
O décimo estudo destaca a importância — muito grande em Teresa dos Andes — do desapego das criaturas. Sedenta de Deus, nossa santa compreendeu com impressionante intensidade que somente o Senhor podia preencher seu coração e torná-la plenamente feliz.
Os dois últimos estudos situam-se no prolongamento do anterior. Depois de ter visto o desapego das criaturas, era preciso ver também a relação de Teresa dos Andes com o próximo e, em primeiro lugar, com a família, que ela amava com ternura (capítulo 11). Teresa amou muito sua família, mas também deixou a graça divina santificar sua afeição humana. Em uma época na qual cada vez mais famílias estão divididas e feridas de diversas maneiras, valeria a pena ver como, de forma concreta, ela amava de um modo particular cada um dos seus e como a caridade, longe de suprimir a afeição humana, a purificou, elevou e divinizou.
Por fim, o último estudo contempla o lugar importante da amizade na vida de Teresa dos Andes (capítulo 12). Os dois últimos estudos permitem compreender melhor como o heroico desapego das criaturas vivido por Teresa dos Andes permitiu-lhe contemplar o próximo à luz de Deus e ter por ele uma grande ternura e uma maravilhosa delicadeza.
Sem ser sistemático, geralmente chamamos Santa Teresa dos Andes ora de Juanita (seu nome de batismo), quando se trata do período que precede a entrada no Carmelo (maio de 1919), ora de Teresa, seu nome religioso (Teresa de Jesus), quando se trata dos onze meses que viveu no Carmelo de Los Andes. Também fizemos a opção de conservar os nomes espanhóis: don Miguel para o pai de Teresa, dona Lucía para sua mãe, Rebeca para a irmã mais nova etc.
Utilizamos as traduções francesas do Diário e das Cartas de Teresa dos Andes feitas por M.-A. Haussièttre e publicadas nas Éditions du Cerf em 1994 e 1995, respectivamente, trazendo às vezes correções (quando a tradução contém erros) ou ligeiros retoques para uma melhor precisão. A paginação indicada nas referências em nota remete a essas traduções. As citações da Bíblia são tiradas da Bíblia de Jerusalém (1973). Indiquemos uma vez por todas que apenas as cartas escritas por Teresa dos Andes foram publicadas; em contrapartida, as cartas que recebeu não o foram, salvo raríssimas exceções (em geral, trata-se de trechos inseridos em um livro). Pudemos, contudo, ter acesso a muitas dessas cartas conservadas nos arquivos do Carmelo de Auco (Los Andes); quando as citamos, damos uma tradução francesa, como o fazemos também para os testemunhos do processo de beatificação de Teresa (Positio super virtutibus, abreviadamente: Positio).
Três dos estudos desta obra foram a princípio publicados como artigos na revista Carmel; eis as referências:
— “ Dieu est joie infinie ”. Joie de Dieu et joie du chrétien chez sainte Thérèse des Andes, Carmel 119 (mars 2006, pp. 35-42).
— “Son âme est semblable à la mienne”. La présence d’Élisabeth de la Trinité dans la vie de Thérèse des Andes, Carmel 124 (juin 2007), pp. 91-103.
— “Quand j’aime c’est pour la vie”. L’amitié chez sainte Thérèse des Andes, Carmel 134 (décembre 2009), pp. 113-120; Carmel 135 (mars 2010), pp. 131-137.
Os três estudos foram revisados para esta obra. Os outros, por sua vez, são inéditos.
Agradeço calorosamente as Irmãs do Carmelo de Los Andes, em Auco (o Carmelo de Teresa no Chile) pela acolhida fraterna e a transmissão de numerosos arquivos, principalmente no que diz respeito à correspondência recebida por Teresa dos Andes. Essa correspondência, infelizmente ainda inédita, é de grande interesse para a pesquisa “andino-teresiana”. Expresso igualmente minha gratidão a Ana María Risopatrón, que tem um conhecimento inigualável da trajetória de Teresa em seu contexto histórico, pela disponibilidade em responder às minhas perguntas e pela autorização de utilizar sua cronologia de Teresa dos Andes. Pude igualmente ter acesso à Positio super virtutibus de Teresa, isto é, o compêndio das atas do processo de beatificação, contendo principalmente numerosos testemunhos de sua vida. Nesse sentido, o testemunho dado por Lucho, irmão de Teresa, é particularmente interessante. Finalmente, agradeço as Éditions du Carmel por acolher em suas publicações esta seleção de estudos alguns anos antes da celebração do centenário da partida de Teresa dos Andes para o Céu (1920-2020). Que Teresa possa atrair cada vez mais cristãos a um amor louco pelo Cristo: “Que queres, se Jesus Cristo, esse louco de amor, me tornou louca?” (Carta 107).
Capítulo I
“Deus é alegria infinita”
A alegria em Teresa dos Andes
Ao final da revelação bíblica sobre Deus, ressoa a dupla afirmação maior de São João em sua epístola: “Deus é luz”, “Deus é amor”. Aproximando-se do fim de sua vida terrestre, Santa Teresa dos Andes escreve à prima Elisa Valdés Ossa: “Deus é alegria infinita”. Ao fazer isso, está explicitando algo do mistério de Deus.
Com efeito, a afirmação “Deus é alegria” não se encontra explicitamente na Escritura, embora esta nos fale da alegria de Deus a respeito do seu povo e da alegria do Cristo. Gostaríamos de ver aqui como Santa Teresa dos Andes aprofundou o mistério da alegria divina e como foi uma testemunha eminente desta em sua vida tão curta, mas tão intensa.
Uma sede insaciável de felicidade
Juanita confessa que experimentou muito cedo em seu coração uma grande sede de felicidade e a buscou loucamente:
“Tive ânsias de ser feliz e busquei a felicidade em todas as partes. Sonhei em ser muito rica, mas vi que os ricos se tornam pobres do dia para a noite. E, embora às vezes isso não aconteça, vê-se que, por um lado, reinam as riquezas e, por outro, reina a pobreza do afeto e da união. Busquei-a na posse do carinho de um jovem perfeito, mas só a ideia de que algum dia ele pudesse não gostar de mim com o mesmo entusiasmo ou que pudesse morrer, deixando-me sozinha nas lutas da vida, me faz rejeitar o pensamento de que, casando-me, serei feliz. Não. Isso não me satisfaz. Para mim, não está aí a felicidade. Onde se encontra? — perguntava-me. Então compreendi que não nasci para as coisas da terra, mas para as da eternidade. Para que negá-lo por mais tempo? Só em Deus meu coração descansou. Com Ele, minha alma sentiu-se plenamente satisfeita, e de tal maneira que não desejo outra coisa neste mundo senão pertencer a Ele por completo”.
Juanita não fez muitas confidências sobre o modo como compreendeu que só Deus podia satisfazer sua sede de felicidade. Aparentemente, não se vê em sua vida um período de busca apaixonada dos “alimentos da terra” que seria sucedida por uma conversão radical, à maneira de um Santo Agostinho. Ela reconhece que Cristo começou a atraí-la desde a infância. Dois acontecimentos de sua vida, contudo, parecem ter tido um papel particularmente importante, senão decisivo: sua primeira Comunhão e uma enfermidade em 1914.
A primeira Comunhão, que aconteceu em 11 de setembro de 1910, foi uma experiência de vida marcante para ela: “a lembrança mais pura que guardarei por toda a minha vida”. Após a Comunhão, sentiu “uma paz deliciosa”. Desde essa data — escreve —, “a terra não teve mais atrativos para mim”. Parece que Juanita recebeu nesse dia a graça de experimentar uma alegria muito profunda, vinda do amor de Cristo por ela. Pede, então, que Jesus a leve consigo o mais rápido possível.
Quatro anos mais tarde, Juanita encontra-se seriamente doente por volta do dia 8 de dezembro, como lhe acontecia periodicamente:
“Então senti ciúme e pus-me a chorar. Meus olhos cheios de lágrimas fixaram-se em um quadro do Sagrado Coração e senti uma voz muito doce que me dizia: “Como, Juanita, eu estou sozinho no altar por teu amor e tu não aguentas um momento?” Desde então, Jesus me fala. [...] Foi-me ensinando como devia sofrer e não me queixar... e da união íntima com Ele. Então disse que me queria para Ele. Que queria que fosse carmelita. [...] Nosso Senhor mostrou-me a santidade como fim [...]”.
Muitos anos mais tarde, em uma carta ao pai, ela fará alusão a esse acontecimento que parece ter marcado uma mudança de direção em sua vida: “Acredito que não foi uma ilusão, porque fui transformada nesse mesmo instante. Aquela que procurava o amor das criaturas só desejava o amor de Deus”.