Nota do autor para a edição atualizada, revisada e ampliada
Enquanto as boas novas sobre sexo, gênero e casamento permanecem as mesmas de sempre, as atitudes culturais mudaram drasticamente desde o lançamento da primeira edição deste livro em 2000. Desde aquela época, a lógica da revolução sexual não apenas avançou – ela disparou.
Os smartphones transformaram a pornografia extrema em nossa referência principal para o entendimento do sexo. A cultura do “sexo sem compromisso” praticamente destruiu a noção de que a atividade sexual precisa ter algo a ver com amor e compromisso. O casamento entre pessoas do mesmo sexo se tornou a lei nacional e a “ideologia de gênero”, que torna o sexo das pessoas completamente maleável, foi consagrada em lei, deixando os que a questionam ou levantam objeções, sujeitos a serem enquadrados na legislação do “discurso de ódio”.
Este novo cenário cultural exigiu uma versão atualizada e ampliada deste livro. Novos entendimentos, nuances e questões foram adicionados ao longo do livro, especialmente no capítulo oito, sobre casamento entre pessoas do mesmo sexo; e um novo capítulo abordando questões sobre a identidade de gênero foi acrescentado.
O meu objetivo nesta edição é o mesmo da anterior: responder às dúvidas sinceras e muitas vezes complexas das pessoas à luz dos ensinamentos de Cristo. Mas o que, realmente, os ensinamentos de Cristo têm a dizer em resposta aos desafios de hoje? Aqui, faço minhas as palavras de São João Paulo II:
Penso que entre as respostas que Cristo daria aos homens do nosso tempo e às suas interrogações, muitas vezes tão impacientes, seria ainda fundamental a que deu aos fariseus [quando falou com eles sobre o plano original de Deus de nos criar homem e mulher]. Respondendo àquelas interrogações, Cristo referir-se-ia, antes de mais, ao “princípio”. Fá-lo-ia talvez de modo ainda mais decidido e essencial, dado que a situação interior e, ao mesmo tempo, cultural do homem de hoje parece afastar-se daquele princípio e assumir formas e dimensões que divergem da imagem bíblica do “princípio” em pontos evidentemente cada vez mais distantes.[1]
Sim, os problemas e situações do homem e da mulher estão hoje muito distantes da imagem de harmonia retratada no “princípio”, quando o homem e a mulher abraçaram sua humanidade “nus e não se envergonhavam”. Mas, como João Paulo II acrescentou, “Cristo não ficaria surpreendido com nenhuma dessas situações”. E em resposta a elas Ele “continuaria a referir-se sobretudo ao ‘princípio’”.
[2] E o mesmo faremos nós. Pois é aí, no apelo de Cristo ao plano original de Deus de nos criar homem e mulher, que reside a esperança da nossa restauração.
Todos experimentam um “eco” desse plano original em seus corações. Todos ainda anseiam por ele. E a boa nova sobre sexo e casamento é que Cristo veio ao mundo “para restaurar a criação para a pureza de suas origens”.
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Tem sido muito encorajador receber tantos testemunhos de diversas partes do mundo sobre como este livro tem mudado a vida das pessoas. Peço a Deus que esta nova edição ajude a nova geração a redescobrir que o plano de Deus é verdadeiramente uma boa nova.
Christopher West
Prefácio da Edição Original
Eis uma aposta segura: eu apostaria que a maioria de vocês que abrem este livro já ouviu sobre a “crise vocacional” na Igreja. Nos últimos trinta anos esse tem sido um tópico comum nas conversas. Milhares de artigos têm sido escritos sobre isso. Você já deve ter visto alguns.
Outra aposta segura: eu apostaria que quase todas as histórias e conversas eram sobre padres ou religiosos – como temos poucos e por que teremos menos ainda no futuro. E é verdade, precisamos mesmo de mais padres e religiosos, e, em vários lugares dos Estados Unidos, o declínio no número de padres e religiosos é extremamente sério.
Mas aqui vai uma terceira aposta segura: eu apostaria que pouquíssimos desses artigos e conversas tenham abordado a mais fundamental das crises vocacionais: a do casamento e da vida familiar. Deus chama cada um de nós a participar da sua obra de criação, cada um à sua maneira. Todos temos vocações. O casamento é uma vocação. A paternidade é uma vocação. Não é por acidente que a maioria dos padres e religiosos provêm de famílias católicas amorosas, crentes e praticantes. De fato, de muitas maneiras, o amor entre o homem e a mulher é a pedra fundamental sobre a qual todas as outras vocações cristãs são construídas. Casamentos e famílias sólidos formam uma Igreja vigorosa, cheia de alegria. O oposto também é verdadeiro: famílias que são mornas no seu amor para com Deus e indiferentes em sua prática religiosa, enfraquecem todas as outras dimensões da vida católica. É por isso que a Igreja precisa urgentemente de homens e mulheres que possam proporcionar o exemplo e a orientação de que nossas famílias precisam.
Você verá que Christopher West é exatamente esse tipo de homem: articulado, alegre, fiel à Igreja e completamente apaixonado por Jesus Cristo e o Evangelho. Sendo marido e pai, ele escreve por experiência. Ele conhece as dificuldades e as alegrias da vida de casado. Ele conhece as objeções ao ensinamento católico em primeira mão, pois já as confrontou ele mesmo. Ele tem o dom maravilhoso de tornar importantes verdades facilmente acessíveis, demonstrando os “por quês” por trás dos “o quês” do ensinamento católico de maneira revigorante e persuasiva.
Certamente, o vínculo mais terno e empolgante do amor conjugal, é a intimidade sexual. É também o mais facilmente incompreendido e mal direcionado. É por isso que o testemunho de uma pessoa como Christopher West é tão valioso. Em “Boas Novas Sobre Sexo e Casamento”, ele faz com que a “Teologia do Corpo” de João Paulo II se torne compreensível, atraente e relevante para os casais de hoje. Suas reflexões sobre a Igreja e a contracepção são simplesmente extraordinárias. Com efeito, este pequeno volume é um tipo de “catecismo dos ensinamentos católicos sobre sexo e casamento” – e, portanto, é perfeito para cursos de noivos, RICA, formação de adultos e enriquecimento para a vida matrimonial.
Mas não se trata de um trabalho teórico, nem de um livro didático. Antes, é uma fonte de sustento concreto, pois nos mostra continuamente que lidar honestamente com os problemas do sexo e do casamento nos coloca face-a-face com a mensagem integral do Evangelho e com o significado de nossas vidas. É intitulado Boas Novas por uma excelente razão. É um livro sobre a nossa humanidade e o drama humano da nossa criação, nossa queda e nossa redenção em Jesus Cristo, que verdadeiramente é uma boa nova – boa nova porque em Cristo há um poder real de viver a verdade.
Faça à Igreja e a você mesmo um favor: leia e releia este livro. Incentive todas as pessoas que você conhece a fazerem o mesmo.
Se você gostaria de fazer alguma coisa a respeito da “crise vocacional”, pode começar exatamente aqui.
Arcebispo Charles J. Chaput, O.F.M. Cap.
Introdução
O homem não pode viver sem amor. Ele permanece para si próprio um ser incompreensível e a sua vida é destituída de sentido, se não lhe for revelado o amor, se ele não se encontra com o amor, se o não experimenta e se o não torna algo seu próprio, se nele não participa vivamente. E por isto precisamente Cristo Redentor, revela plenamente o homem ao próprio homem.
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São João Paulo II
Crescendo na Igreja Católica nos anos setenta e oitenta, tive muitas dúvidas e objeções com relação aos ensinamentos da Igreja sobre sexo e casamento. Quando meus hormônios explodiram, praticamente tudo o que me tinham ensinado sobre “permanecer puro” fugiu pela janela. Ao longo dos anos que se seguiram, porém, o meu comportamento sexual iria cobrar o seu preço.
(...)
[1] São João Paulo II,
Teologia do Corpo: o amor humano no plano divino (Campinas: Ecclesiae, 2014). Tradução por Libreria Editrice Vaticana e José Eduardo Câmara de Barros Carneiro, 23,3. Doravante referido como TdC.
[3] Catecismo da Igreja Católica (São Paulo: Editora Vozes, 1993), 2336. Doravante referido como CIC.
[4] Redemptor Hominis, 10.