PREFÁCIO
“Deus quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade” (1 Tim 2,4). Surge, porém, de modo insistente a pergunta de muitos: “Que devo fazer para me salvar?” (Atos 16,30). Posso também tornar-me santo?
Este livrinho procura dar a essa pergunta uma resposta simples, despretensiosa, compreensível a todos, indicando-lhes o caminho acessível. A mensagem do Reino de Deus deve ser uma “boa nova” (Lc 16,16), não uma notícia que oprima as almas.
Justamente aos oprimidos e abatidos, aos “humildes”, aos pobres e pecadores este livrinho quer dar uma alegre notícia, a fim de que tornem a erguer “as mãos desfalecidas e os joelhos vacilantes” (Hebr 12,12).
As três partes de que se compõe estão em íntima conexão. Só pela fé e por conceitos sobrenaturais podemos alcançar o domínio de nós mesmos e do mundo. “Só vive quem crê” (Chateaubriand). Só pela fé chega-se ao amor.
Muitos pontos são apenas sugeridos; fica, portanto, a cada um vasto campo para a atividade e reflexão.
A Maria, nossa Mãe celestial é dedicado este opúsculo. Com sua bênção materna possa ele penetrar no mundo e conduzir à santidade total inúmeras almas “famintas”.
Pe. Richard Graf
INTRODUÇÃO
A INDIGÊNCIA RELIGIOSA DE NOSSO TEMPO
Nossa fé – Um fardo?
A vida é fardo pesado. Atestam-no a Sagrada Escritura e a Tradição. Fatos não precisam ser provados. A fé deve ajudar-nos a carregar mais facilmente o fardo da vida e dar sentido à nossa existência. “Vinde a mim todos vós que andais aflitos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt 11,28). Como explicar que para muitos a fé não seja mais essa força, e a religião se torne novo peso acrescentado ao fardo da vida, e peso ainda mais opressivo, sob o qual suspiram e gemem? Quantos lamentam terem sido educados no catolicismo! Em outras confissões religiosas a vida é mais cômoda e fácil. O Salvador diz, é verdade, que nos impõe um jugo e um fardo, mas acrescenta expressamente duas palavras importantes: “Meu jugo é suave e meu fardo, leve” (Mt 11,30). Até mesmo o empreiteiro mais avarento paga o salário, mesmo que escasso, a seus operários. Acaso só Deus seria capaz de tal dureza que só quisesse colher e jamais semear? (Lc 19,21) Não está escrito, já no Antigo Testamento (Sl 33,9): “Provai e vede quão suave é o Senhor!”? Deus é bom; ele paga o cêntuplo já neste mundo, e nos dá no outro a vida eterna.
Nossa fé – Uma força!
São João escreve: “A vitória que vence o mundo é a nossa fé” (1 Jo 5,4). Essas palavras valem também para os nossos dias. Como é possível, porém, que em muitos logo se notem o tédio e o desgosto da fé, deixando essa fé sem força para resistir aos assaltos, ou para os levar a pôr em prática os mais elementares e necessários preceitos da religião? Os destinatários da Epístola aos Hebreus tiveram de sustentar dolorosas lutas, sofreram injúrias e tribulações, definharam na prisão, suportaram com alegria o roubo de seus haveres (10,32 ss). Entretanto, São Paulo não lhes tece louvor especial, e declara que devem estar prontos a resistir por sua fé até ao sangue (12,4). Se nossa fé não nos dá mais a força de suportar tudo por ela, isso não é culpa da fé, nem de Deus, mas tão somente nossa. Este livrinho, cujos pensamentos amadureceram sob a influência das circunstâncias atuais, procura dar solução a estas questões.
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