Apresentação
Em nosso relatório sobre o Catecismo
[1] e as Vocações, apresentado ao quinto Congresso Nacional de Recrutamento sacerdotal de Nancy, em 1929, lembramos a possibilidade de fazer ouvir discretamente o apelo de Deus na explicação de cada capítulo do catecismo.
Hoje oferecemos este trabalho a todos os que se preocupam com o problema das vocações sacerdotais.
A presente obra foi redigida de modo que possa servir tanto para os catequistas como para as crianças. Os catequistas encontrarão nela as ideias que deverão desenvolver, adaptando-as à mentalidade de seus ouvintes. As crianças, que recebem a instrução religiosa elementar, guardarão dos conceitos aqui expendidos uma reminiscência bastante duradoura. Assim, lendo este livrinho, tornarão a sentir as impressões dos dias em que aprendiam o catecismo e talvez tenham a felicidade de ouvir o apelo de Jesus a que os apóstolos não resistiram:
Vem, e segue-me!
Introdução
Razão pela qual não devemos sentir certo pesar, ao ler o Evangelho
No começo de sua última viagem a Jerusalém, achava-se Jesus a caminho, quando lhe apresentaram algumas crianças para que as tocasse com suas mãos sagradas. Os discípulos tentaram repelir rudemente as pessoas que as tinham trazido. Jesus, porém, protestou, dizendo: “Deixai vir a mim as criancinhas, não as estorveis, porque o reino do céu é daqueles que com elas se parecem. Em seguida o divino Mestre abraçou os pequeninos e os abençoou, impondo-lhes as mãos (Mc 10,13-16).
Vós, que vindes ao catecismo, provavelmente pensais na felicidade das crianças que viram a Jesus e que o ouviram. Ah! se estivésseis entre elas!
Certamente ouviríeis com a máxima atenção as palavras sublimes do Filho de Deus, permanecendo muito quietos, quase imóveis, sentados a seus pés. E naturalmente lamentais que Jesus já não viva entre os homens, como nos tempos em que andava pela Palestina.
Eu, porém, vos digo: Não há razão para esse pesar, porque sois mais felizes do que as crianças da Judeia.
Hoje ainda podeis ouvir a Jesus. O sacerdote que vos ensina a religião é apenas uma voz que repete o que Nosso Senhor disse.
Quem o ouve, ouve a Jesus. O sacerdote não inventa e não fala em seu nome, mas sim em nome de seu Mestre. O sacerdote catequista ensina as verdades em que devemos crer, os deveres que devemos praticar, e os meios a que devemos recorrer para chegar à santidade. É um discípulo que, tendo ouvido a recomendação: “Deixai vir a mim as criancinhas”, não repele os pequeninos; mas, ao contrário, procura levá-los a Jesus, porque Jesus lhes reserva a divina carícia da Comunhão, o dom sublime de seu corpo, de seu sangue, de sua alma e de sua divindade.
Sejamos gratos a Deus, porque nos deu o sacerdote.
O símbolo dos apóstolos
Os primeiros sacerdotes
Era um lindo lago o de Genesaré! Era um lago tão grande que o chamavam de mar da Galileia. Com vinte quilômetros de comprimento e doze de largura, parecia realmente um verdadeiro mar. Suas ondas de coloração azul-cinzenta vinham morrer em praias cobertas de cascalho, onde se levantavam inúmeros rochedos; em suas margens abundavam os loureiros, as tamareiras e as espinhosas alcaparras.
O lago achava-se emoldurado em um quadro de folhagem exuberante revestida de flores. Suas águas bastante piscosas sustentavam dez cidades e grande número de aldeias de pescadores.
Naquele dia, duas barcas balançavam-se sobre as ondas, e na praia alguns pescadores lavavam as redes.
Acompanhado de muita gente, Jesus chega ao lugar onde os pescadores se encontram, e entrando na barca de Simão, pede a este que a afaste um pouco da praia. Livre da multidão que o comprimia, o divino Mestre fala do reino de Deus, pois viera fundá-lo na terra. Quando terminou a pregação, disse ao pescador:
— Leva a barca para o alto mar e atira a rede.
— Mestre — respondeu Simão — trabalhamos a noite toda, e não pescamos nada. Contudo, farei o que me mandas.
Dito isto, remou durante algum tempo. Depois deteve a barca, levantou-se e atirou a rede, que se abriu em leque sobre as águas azuladas. Esperou uns minutos e finalmente tentou retirar a rede submergida. Mas não o conseguiu. Havia tanto peixe entre as malhas e o peso era tamanho, que Simão foi forçado a chamar os pescadores da outra barca, para o auxiliarem. Estes atenderam ao chamado e encheram de peixe as duas barcas, que quase soçobravam sob a pesada carga.
Simão lançou-se então aos pés de Jesus, e disse:
— Senhor, afasta-te de mim, porque sou um pecador.
Mas Jesus tranquilizou-o:
— Não tenhas receio. De hoje em diante serás pescador de homens.
Simão e seus sócios João e Tiago reconduziram as barcas para a praia, e, abandonando tudo, redes, barcas e família, seguiram entusiasmados o divino Mestre.
Tornaram-se, assim, os primeiros sacerdotes.
[1] Por ter sido escrito na década de 30, o Catecismo que o autor aqui toma por referência é o Catecismo de S. Pio X. [N. E.]