Jesus sentia-se feliz entre as criancinhas. Colocava-as sobre os joelhos estreitava-as contra o coração e abençoava-as. Quando os apóstolos queriam despedi-las Jesus tomava sua defesa: Deixai vir a mim diz porque delas é o reino de Deus (Mc 10 14). Acariciando assim as criancinhas Jesus pensava naqueles que se lhes assemelham em todos os corações humildes e confiantes que viveriam um dia sobre a terra.
Quereria reunir hoje em torno do doce e bom Mestre todas as almas dispersas no universo e entretê-las sobre a humilde confiança sobre o amor filial para com Jesus e Maria!
Jesus disse: Se podes crer tudo é possível àquele que crê! (Mc 9 22) Se pois uma alma tem confiança poderá alcançar a coisa mais bela e necessária a única digna de ser desejada: o amor perfeito o desprendimento total da criatura a imitação integral de Jesus o divino Salvador.
Quem não quereria tomar Jesus pela palavra e arrebatar-lhe a santidade por uma confiança absoluta! As páginas que se seguem não têm outro fim senão ajudar as almas de boa vontade neste nobre intento.
Seu primeiro fim é esclarecer as almas. A santidade consiste em fazer vir Jesus Cristo em nós: Já não sou eu que vivo mas Cristo que vive em mim (Gál 2 20). Quando Jesus Cristo viver em nossa inteligência por seu amor e em nossa atividade por uma perfeita conformidade ao seu divino querer o fim que tinha chamando-nos à existência estará alcançado.
Lembremo-nos de que pela graça santificante o Espírito Santo depositou em nossa alma a semente da vida de Jesus em nós. No começo a espiga não é senão um minúsculo grão de trigo lançado à terra; a planta no princípio não é senão um embrião imperceptível; o carvalho majestoso no começo é apenas uma bolota insignificante.
Assim a magnífica florescência da vida sobrenatural que apresenta uma alma chegada à maturidade espiritual está contida inteiramente numa simples semente: a graça santificante. Esta semente encerra em si em proporções ainda minúsculas – em estado de simples hábitos infusos – numerosos ramos: as quatro virtudes cardeais as três virtudes teologais e os sete dons do Espírito Santo.
A sucessão dos capítulos[1] deste livro mostrará como a graça santificante se desenvolve e se torna uma grande árvore cujos galhos se cobrem de folhas flores e frutos. É a confiança a primeira causa deste crescimento; sem ela há graças e sem a graça não há progresso na virtude. É Deus quem dá o crescimento (1 Cor 3 6).
A confiança porém sem a oração é estéril: Pedi e dar-se-vos-á (Mt 7 7). Munida da confiante oração a alma começa o primeiro trabalho. Extermina as más ervas desenraíza seus defeitos sobretudo os mais capazes de sufocar a boa semente: o orgulho os apegos do espírito e do coração os defeitos do caráter e substitui estes vícios por hábitos contrários isto é as virtudes infusas.
Assim purificada a alma pode aplicar toda sua atenção ao exercício da vida iluminativa pela prática mais intensa das virtudes teologais. Começa assim a revestir-se de Jesus Cristo esforçando-se por conhecê-lO amá-lO e imitá-lO.
Por fim o Espírito Santo virá coroar sua obra concedendo-lhe a graça de viver habitualmente durante a oração e durante a ação sob a influência dos dons do Espírito Santo. Então está atingida a perfeição e a alma que muitas vezes semeou nas lágrimas colhe agora na alegria os frutos do Espírito Santo: Iam chorando lançando a semente mas vieram com gritos de alegria trazendo os feixes de sua messe (Sal 125 6).
Ao lado deste fim principal que é esclarecer visei um segundo: Prevenir as almas. Nada sem dúvida é mais belo nem mais seguro do que a trilha da filial confiança a trilha da infância espiritual; e Jesus Cristo afirma: Em verdade vos digo: aquele que não aceitar o reino dos céus como uma criancinha nele não entrará (Mc 10 15).
Contudo há certos perigos a afastar e certas ilusões a evitar. Aquele que só se apegasse ao exterior da vida da infância espiritual e negligenciasse o que constitui sua essência iludir-se-ia consideravelmente.
O amor pregado por esta doutrina tem exigências. O abandono que supõe pede o sacrifício total da liberdade humana a intimidade com o Mestre a qual conduz não é somente a do Tabor é também e sobretudo enquanto vivemos a do Calvário. Logo há necessidade de chamar frequentemente a atenção sobre este escolho e pôr em evidência o sacrifício contínuo que Jesus exige daqueles que convida a segui-lo.
Enfim o terceiro fim visado nestas páginas é encorajar as almas sinceras desejosas de tudo fazer e de tudo sofrer para chegar à perfeita união com o divino Mestre porém detidas por toda sorte de dificuldades de penas interiores e de penosas dúvidas. Tais almas são legião no claustro e no mundo.
Não puderam em consequência de seu estado dedicar-se a um estudo metódico da vida espiritual e aliás os livros que tiveram as mãos eram demasiado elevados para elas ou demasiado áridos ou demasiado impregnados na sua opinião de ciência humana e de erudição. Tinham necessidade de outra coisa.
Essas almas a experiência o faz crer sentem na sua maioria no mais íntimo do coração atrativos superiores do Espírito Santo convites a maior confiança a maior fidelidade a maior abandono à ação divina. Receberam de Nosso Senhor pelo menos por intervalos incontestáveis provas de bondade pouco comum de misericórdia e de condescendência e não sabem o que devem pensar desses toques divinos. Por um lado desejam seguir o apelo para confiança que lhes parece vir do céu e por outro lado temem ser joguetes da imaginação.
Os livros que lhes colocamos nas mãos são mudos sobre a matéria de sua dúvida. Os próprios padres aos quais pedem conselho parecem às vezes ignorar o mundo sobrenatural.
Em vez de encontrar neles luz e estimulo só encontram desconfiança e não recebem senão inquietação e dúvida. Como inspiram compaixão essas almas humildes estes filhos que pedem pão e não há ninguém para lhes dar (cf. Lam 4 4).
Mas também que confiança e alegria quando podem encontrar um livro em harmonia com seu estado de alma! Que segurança e paz quando veem expressos por outrem os sentimentos as aspirações os pensamentos que acreditavam serem só seus.
Digne-se o Espírito Santo que se apraz em empregar meios insignificantes do ponto de vista humano servir-se destas humildes páginas para tocar algumas dessas almas bem dispostas para lhes trazer a luz e o conforto necessários para acalmar seus fúteis temores.
Digne-se a Virgem Imaculada a Mãe do Perpétuo Socorro abençoar este livro e conduzir a Jesus por seu intermédio numerosas almas humildemente confiantes na sua bondade infinita e prontas a fazer todos os sacrifícios para lhe provar seu amor.
[1] A distribuição das matérias foi feita de tal modo que se possa em caso de necessidade utilizar o livro para fazer um retiro de 10 dias.
A confiança plena em Deus e na sua graça santificante produz muitos frutos nas almas que se abandonam a Ele. Por isto, o autor aconselha-nos, nestas páginas a seguir, um caminho de abandono nas mãos de Deus Pai, com a ajuda da sua Santíssima Mãe. No entanto, o amor perfeito a Deus, que torna todas as nossas ações agradáveis aos seus olhos, só é alcançado por meio de uma confiança humilde e filial. Só recebe esse amor, que é um dom, quem se desprende de todas as criaturas para se aproximar da sua fonte: Deus o próprio Amor.
ficha técnica
ISBN: 978-85-62219-11-5
Páginas: 192
Formato: 14 x 21 cm
Peso: 0,24 kg
Acabamento: Brochura
Idioma: Português