Apresentação
Francisco Javier Insa Gómez
Na exortação apostólica Amoris laetitia, o Papa Francisco falou da pastoral matrimonial como uma apresentação do Evangelho da família. Isso significa mostrá-lo de uma maneira positiva e alentadora, partindo da certeza de que «o anúncio cristão sobre a família é verdadeiramente uma boa notícia» que enche o coração e a vida inteira de alegria.
Ao longo do documento, o Pontífice indica duas pautas principais para fazer eficaz a pastoral familiar.
Em primeiro lugar, a pastoral deve ser vista como uma apresentação às famílias de «valores como a generosidade, o compromisso, a fidelidade ou a paciência». Portanto, é muito mais do que um anúncio puramente teórico e desligado dos problemas reais das pessoas ou que a simples apresentação de uma normativa.
Por outra parte, a exortação enfatiza que para alcançar este objetivo é necessário continuar o esforço de formar bem tanto os pastores como a todos os que se dedicam à pastoral familiar: sacerdotes, diáconos, seminaristas, religiosos e religiosas, catequistas e outros agentes pastorais. Todos eles estão chamados a mostrar «que o Evangelho da família é resposta às expectativas mais profundas da pessoa humana: a sua dignidade e plena realização na reciprocidade, na comunhão e na fecundidade». Além disso, também devem ser «sinais de misericórdia e proximidade para a vida familiar, onde esta não se realize perfeitamente ou não se desenvolva com paz e alegria».
O Centro de Formação Sacerdotal da Universidade Pontifícia da Santa Cruz, em colaboração com o Centro de Estudos Jurídicos sobre a Família de dita Universidade, quis contribuir para a realização deste desejo do Papa. Com esta finalidade, entre fevereiro e abril de 2019 organizou a segunda edição do Curso sobre o acompanhamento pastoral no caminho matrimonial. O curso teve uma perspectiva interdisciplinar e um enfoque que combinava os aspectos teóricos com uma finalidade eminentemente prática. Seguindo as recomendações de Amoris laetitia quis incluir como ponentes não só professores e pastores, como também os próprios cônjuges e os profissionais de outras ciências que podem colaborar na ajuda às famílias, como a psicologia e a orientação familiar.
Assim tentou oferecer aos participantes do curso uma ajuda para seu importante trabalho de preparação e ajuda aos jovens, aos cônjuges e aos pais, de maneira que cada pessoa não só encarne o Evangelho da família, mas que também seja sua testemunha e porta-voz.
A pedido dos assistentes, os expositores entregaram os textos de suas intervenções. Com algumas contribuições adicionais conseguimos apresentá-los neste volume para que possam chegar a um público o mais amplo possível.
O livro se abre com o capítulo introdutório de Héctor Franceschi (professor de Direito Canônico da Universidade Pontifícia da Santa Cruz e Juiz do Tribunal de Primeira Instância do Vicariato de Roma), que trata de responder à pergunta que se fazem tantos jovens: por que se casar na Igreja? Com esta finalidade desenvolve a realidade do matrimônio não só do ponto de vista do cristão, mas também como realidade humana, e resume, oferecendo possíveis soluções, as dificuldades que possa haver hoje para uma adequada compreensão.
José María Galván (professor de Teologia moral da Universidade Pontifícia da Santa Cruz e de Antropologia Teológica no Istituto di Scienze Religiose all’Apollinare) tem também uma longa experiência na preparação para o matrimônio. Em seu capítulo oferece uma proposta de conteúdos para os cursos pré-matrimoniais, centrando-se nos pontos mais importantes em que convém insistir no contexto atual: o diálogo, as virtudes e a confiança em Deus.
O capítulo se completa com a visão de Annamaria Roggero (psicóloga e especialista em mediação familiar) e Danilo Gentilozzi (licenciado em Direito e jornalista), esposos e pais de quatro filhos. Como colaboradores na preparação pré-matrimonial em sua paróquia dão uma importante contribuição: quais são os conteúdos que mais apreciam os casais que participam nos cursos e quais, a seu juízo, poderiam ser acrescentados.
Wenceslao Vial (professor de Psicologia e vida espiritual na Universidade Pontifícia da Santa Cruz e médico) aborda em seu capítulo a maturidade dos namorados na preparação para o matrimônio. Em sua reflexão, dá algumas chaves para detectar um desenvolvimento insuficiente da pessoalidade que possa comprometer a validade do sacramento ou colocar em perigo a fidelidade ao compromisso. Termina oferecendo ferramentas para promover um desenvolvimento saudável da pessoalidade.
A celebração do casamento se estuda no capítulo de Giovanni Zaccaria (professor de Teologia dos sacramentos no Instituto de Liturgia da Universidade Pontifícia da Santa Cruz) e Francisco Insa (professor de Bioética e secretário do Centro de Formação Sacerdotal da citada Universidade). Neste capítulo são dadas algumas ideias práticas que podem servir tanto ao sacerdote quanto aos noivos para preparar uma celebração mais digna e entendida com maior profundidade.
O acompanhamento pastoral dos esposos no sacramento da Penitência e na direção espiritual é estudado por Ángel Rodríguez Luño (professor de Teologia moral na Universidade Pontifícia da Santa Cruz). Em seu capítulo podemos apreciar não só seu profundo conhecimento acadêmico, mas sobretudo as muitas horas dedicadas a escutar no confessionário a pessoas de todas as condições e idades.
O capítulo seguinte está escrito de novo por Danilo Gentilozzi e Annamaria Roggero. Explicam o que os pais esperam dos sacerdotes no que diz respeito à educação de seus filhos para uma vida cristã autêntica. A catequese se mostra como um lugar ideal para fomentar o crescimento das virtudes humanas e cristãs, a educação ética e os primeiros passos na vida de oração, sempre em diálogo com os pais, principais responsáveis da educação de seus filhos.
Mariolina Ceriotti Migliarese (neuropsiquiatra infantil e psicoterapeuta, mas também mãe e avó) tem um profundo conhecimento dos ciclos vitais do casal, que incluem momentos de crise evolutiva. Conhecê-los e saber como enfrentá-los permite aos cônjuges manter uma relação sólida e vital. Desta forma se evitam as crises mais graves, que surgem da dificuldade para compreender a dinâmica da relação conjugal e para adaptar-se mutuamente de maneira flexível.
O discernimento das dolorosas situações das famílias feridas, incluídos os divorciados que voltaram a casar, é tratado na contribuição de Silvia Frisulli (advogada do Tribunal da Rota Romana e especialista em assessoramento familiar). A escuta, a integração na comunidade eclesial e as tentativas de reconciliação são consideradas o objetivo de todo acompanhamento pastoral e são tratadas a partir de uma perspectiva aberta e inclusiva.
O tema é retomado por Miguel Ángel Ortiz (professor de Direito matrimonial canônico na Universidade Pontifícia da Santa Cruz e Juiz do Tribunal de Apelação do Vicariato de Roma). Tratando de superar um falso contraste entre misericórdia e justiça, aborda a questão do acesso à comunhão eucarística dos divorciados que voltaram a casar oferecendo um caminho de acolhida, de integração e de discernimento das diferentes situações.
Encerra o volume Héctor Franceschi, abordando a questão do discernimento das possíveis causas de nulidade à luz da nova legislação recentemente promulgada pelo Papa Francisco. A necessidade de buscar a verdade sobre o matrimônio celebrado é considerada a chave na investigação da validade e para isso se resumem as diferentes situações que podem originar uma nulidade. O autor insiste no necessário diálogo entre a pastoral e o Direito, já que ambos buscam o bem da pessoa e, portanto, da instituição matrimonial, um bem indissoluvelmente ligado à verdade.
Creio que a grande variedade de enfoques das intervenções aqui reunidas são um reflexo da riqueza e complexidade da realidade do matrimônio em nossos dias. Uma adequada compreensão de todas estas dimensões por parte dos agentes pastorais é de grande importância para acompanhar aos esposos e a toda a família no cumprimento de sua vocação divina: a de caminhar juntos rumo a Deus.
Antes de concluir, gostaria de agradecer a muitas pessoas que colaboraram na preparação do curso que deu origem ao livro, especialmente aos demais membros do Comitê Diretivo do Centro de Formação Sacerdotal: os professores Paul O’Callaghan, Manuel Belda e Miguel de Salis; e aos do Centro de Estudos Jurídicos sobre a Família: os professores Álvaro González Alonso e Jaime Abascal.