A QUEM A PALAVRA?
Era em Ain-Karin, nas montanhas da Judeia. Uma criança acabava de nascer. Reunidos em torno do berço, os pais e os vizinhos discutiam não só acerca do seu nome, como também sobre o futuro que aguardava o menino, pois as circunstâncias extraordinárias que haviam cercado a sua vinda a este mundo provavam que a mão de Deus estava sobre ele. “O que virá a ser este menino?” (Lc 1,66)., perguntavam.
A mesma pergunta continua sendo feita junto a cada berço, e foi feita também quando você nasceu. A mão de Deus pousou igualmente sobre você. Ele o chamou à vida; ao seu corpo acrescentou uma alma imortal, criada à sua imagem; concedeu-lhe dons de inteligência, de coração e de vontade; colocou-o numa determinada família, num determinado meio, numa determinada nação que Ele escolheu para você; pelo batismo o fez Seu filho e entregou-lhe um capital de virtudes sobrenaturais para que você as faça frutificar.
Mas deu-lhe ao mesmo tempo a liberdade para usar como lhe parecer melhor todos esses bens. Que uso você tem feito dos dons de Deus? Disso dependerá o que você é agora, e o que poderá vir a ser.
Será você um adolescente bem educado, um homem honesto e virtuoso, um bom cidadão e um bom cristão? Ou será uma dessas plantas loucas que não aceitam nenhuma cultura, nenhuma direção, e que ocupam inutilmente a terra, quando não lhe causam devastações?
Quando se tratar de escolher uma carreira, que caminho você seguirá? Saberá fazer honra à sua profissão? Ou não passará de um desses frutos definhados cuja única habilidade é a preguiça?
Porém há mais! Você está inserido em uma nação que é a sua pátria, e em uma sociedade que se chama Igreja Católica. Não pode viver isolado. Ainda que o quisesse, não o conseguiria. Suas virtudes ou seus vícios terão necessariamente repercussão na vida da pátria e na da Igreja.
Já é demasiado o número de homens que, por suas ideias falsas e mau proceder, realizam obra de morte nesses dois terrenos. Quem vencerá, o bem ou o mal? A quem pertence conduzir os destinos da pátria e da Igreja? Ao preguiçoso, ao ignorante, ao transviado, ao utopista, ao homem vicioso? Ou ao trabalhador, ao homem instruído, ao espírito claro e reto, à alma nobre e generosa? A quem a palavra? Todos os pensadores estão de acordo em afirmar que chegamos hoje a uma das grandes curvas da história, onde importa não nos enganarmos sobre a direção a tomar. No momento em que se trata de tomar decisão tão grave, tão prenhe de consequências, a quem a palavra?
Sem dúvida alguma, – responderá você, – àqueles que possuem a formação de espírito e caráter capaz de manter e fazer prosperar a pátria na trilha do bem, do progresso, da justiça, da caridade e da paz, e de assegurar à Igreja o prosseguimento da sua missão evangelizadora.
Pois então, meu filho, se você quer estar entre esses, leia atentamente este livro e procure realizar o que ler.
Pois foi para a sua formação, para a juventude que é a esperança da Igreja, que o escrevi.
PRIMEIRA PARTE
O JOVEM BEM EDUCADO
“Sê corajoso e prudente!
Sê forte, mas sem dureza”.
“O bom traje abre todas as portas;
assim também as boas maneiras”.
- AS BOAS MANEIRAS
A atitude do homem para com seu próximo, bem como as relações sociais, são reguladas por certas convenções claramente determinadas. Essas convenções sociais formaram-se no decorrer dos séculos, e ninguém tem o direito de subtrair-se a elas. Algumas devem sua origem a motivos religiosos; outras procedem do desejo de salvaguardar o bom entendimento entre os homens; e se, em aparência, elas só interessam à apresentação exterior, muitas vezes nos ajudam a observar as leis essenciais da moral.
Estas considerações são razões suficientes para observarmos conscienciosamente as regras da boa educação.
As regras da cortesia não são senão um convite à prática da caridade; servem para estabelecer entre nós as relações ditadas pela sabedoria e pela moderação. Mas, entendamos bem, elas só têm sentido se inspiradas pelo coração e praticadas com sinceridade, sem afetação nem exagero, de um modo fácil e natural.
(...)